Razões para o fracasso eleitoral de membros da Reserva Ativa

Publicado: 2014-04-05   Clicks: 1676

    Tradução: Graça Salgueiro

 

    Os recentes sufrágios eleitorais para o Congresso da República ratificaram pela enésima vez a falta de preparação, coordenação e orientação, da qual adoece a reserva ativa das Forças Militares e da Polícia Nacional para dialogar, que alguns de seus integrantes alcancem cadeiras tão ansiadas quanto necessárias no Senado da República e na Câmara de Representantes.

    Se pergunta-se, cada um dos fracassados aspirantes terá na ponta da língua a eterna desculpa de que a reserva não é unida, que não se apóia ninguém, que se prefere votar nos dirigentes tradicionais, etc., etc. E evidentemente, que cada um deles deveria ter sido a cabeça de lista para aglutinar o acumulado dos votos, pois segundo essa visão míope, ele abriria a passagem para novos aspirantes ao congresso.

      Do dito ao feito há muito trecho. E esse primeiro passo já se teve com o general Canal Albán em um período legislativo, mas suas propostas e limitado campo de ação nessa selva de lobos vorazes, não lhe permitiram sobreviver a um segundo período. Dura realidade.

      Se examina-se o assunto em detalhes, a realidade é muito mais profunda. As razões são bem diferentes. Para citar algumas delas:

1. Sem exceção, os militares e policiais que aspiraram a cargos público nas eleições, ficaram atados ao passado de seus graus, cargos e currículos muito brilhantes, mas em alta percentagem afastados do eleitorado ao qual pretendem cativar e representar.

2. Produto da rígida formação castrense, que convence a cada um a ser o melhor em todos os campos em que atua, sem valorar a dimensão de que poderia trabalhar em equipe, campeiam o cadilhismo, a ausência de debate interno, a carência de programa de governo concreto e a inexistência de um plano estratégico orientado para consolidar um movimento político articulado e projetado no tempo.

3. Cada aspirante que se lança fecha-se em sua vaidade egocêntrica, e os muros que constrói o convencem de que quem não está de acordo com seu procedimento messiânico e caudilhista é um inimigo ou um obstáculo.

4. Para cúmulo dos males, como não há visão política de conformar um movimento com projeção estratégica e debate interno, o afã figurativo de cada um dos aspirantes da reserva ativa os induz a fazer coalizões com tradicionais politiqueiros que são astutos, manipuladores e experts em marmelada, em procedimentos corruptos e em conchavos, que não se enquadram dentro do ser militar que em síntese os leva a ser idiotas úteis com alguns votos, que finalmente favorecem os umbrais dos partidos tradicionais e a quantidade de escanos para os manipuladores.

5. Na ordem interna, os resultados eleitorais demonstram a pobre liderança que exerceram os oficiais e sub-oficiais que na reserva aspiram ao Congresso ou outros cargos públicos. A mostra mais recente: os generais Freddy Padilla e Duván Pineda, com currículos carregados de títulos e elogios mas com muito pouca ascendência entre os que foram seus subalternos e companheiros. Se tivessem tido alguma influência transformadora na instituição, e se tivessem apresentado propostas convincentes acerca dos graves problemas que afetam as Forças Militares e de Polícia, teriam conseguido que os familiares dos uniformizados lhes houvessem depositado seu voto. Porém, os fatos demonstram o contrário.

6. Outro candidato obstinado em representar os oficiais, sub-oficiais, soldados profissionais e civis vítimas das arbitrariedades dos governos Gaviria, Samper, Pastrana, Uribe e Santos acerca do incremento salarial ordenado na Lei 4 de 1992, cometeu o garrafal e reiterativo erro de aspirar pelo Partido Liberal, onde militam inimigos declarados das Forças Militares, há descarado santismo, rodam grossas camadas de marmelada e trabalham personagens responsáveis pela atual debacle da Colômbia. Para rematar, este candidato se caracteriza por causar brigas com palavras de grosso calibre contra quem não compartilhasse com ele, sua mentalidade messiânica, caudilhista e de ausência de debate interno.

7. A estes se somaram outros caudilhos menores que, sem fazer a tarefa de trabalhar de maneira organizada e escalonada às bases eleitorais, aspiraram a conseguir assentos dentro dos movimentos políticos repletos de politicagem e corrupção. E assim não se pode.

Em conseqüência, e dadas as realidades anteriores, o reiterado fracasso dos aspirantes da reserva ativa aos necessários cargos no Congresso, deve ter um giro radical que implique:

1. Não pode haver caudilhos nem seres messiânicos auto-declarados, únicos representantes da reserva ativa. Sua nomeação deve ser democrática, por eleição geral no interior de um movimento político estruturado, com estatutos, personalidade jurídica, militância, objetivos a curto, medio e longo prazo, etc.

2. Não é positivo matricular-se com os partidos tradicionais porque as máculas da para-política, carrosséis de contratação, politicagem e até ódios viscerais contra as instituições armadas, afastam muitos votantes e em especial os familiares das tropas ativas e da reserva.

3. No interior das Forças Militares os oficiais e sub-oficiais devem se preocupar mais em exercer a verdadeira liderança dentro das tropas, não o errôneo auto-convencimento de que, por haver ocupado altos cargos hierárquicos, onde pavoneiam a displicência, a auto-suficiência, e até os conchavos para tirar do caminho outros oficiais que lhes são incômodos. Dessa forma se evitaria que ensoberbecidos pelo egocentrismo quando chegam à reserva, ao postular seus nomes para cargos públicos suponham que os que foram seus subalternos e os familiares dos fardados os apoiarão. Isso é apontar fora do alvo.

4. Para ter êxito com torrente de votos, o movimento político encabeçado pela reserva ativa deverá ter um programa completo com objetivos mensuráveis e verificáveis em temas que são afins ao mister militar, tais como Defesa e Segurança Nacional, Relações Internacionais, serviço de saúde das tropas e seus familiares, justiça com os salários, segurança jurídica e bem-estar geral das tropas ativas e da reserva. Se isto se enfocar assim, haverá caudal suficiente para conseguir os votos, mas como tudo o que acontece na milícia, o exemplo pessoal é a chave do êxito.

5. Para dar exemplo requer-se honestidade a toda prova, sem que se evidencie interesses pessoais acima dos coletivos, conhecimento de sociologia política colombiana, geo-política, processos eleitorais, história, etc. Com dirigentes preparados e honestos se mudaria a forma de fazer política na Colômbia, que se subentende que é isso que pretendem fazer os que aspiram ao Congresso e aos cargos públicos como representantes da reserva ativa. O outro é fazer parte da corrupção politiqueira e manipuladora tradicional, que compra votos e reparte marmelada, com óbvia superioridade sobre quem equivocado se auto-nomeia e acredita que por ter vestido um uniforme, a família militar votará nele. É questão de entender o problema e dar giros diametrais a suas soluções.

Em síntese, o problema não é de dispersão de votos, nem de pôr em um só caudilho auto-nomeado para elegê-lo com a tarefa ilusória de que abra caminho a outros, porque isso além de ser uma quimera, é mentira. A solução é estruturar um movimento aglutinador com planos concretos e objetivos definidos, que desperte o interesse dos militares e policiais ativos e da reserva, pois os verdadeiros líderes são os que interpretam o sentimento coletivo de seus potenciais eleitores e têm a capacidade de debater internamente, de se reinventar frente às necessidades e, sobretudo, de ver na discordância, não inimigos senão potenciais aliados na mesma causa.

 

Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

Analista de assuntos estratégicos – 

www.luisvillamarin.com

 

 

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