Quarenta anos depois da Operação Anorí contra o ELN

Publicado: 2013-09-09   Clicks: 2178

     Tradução: Graça Salgueiro

    condor en_el_aireDurante os meses de setembro e outubro de 2013, completam-se quarenta anos da exitosa operação de aniquilamento do primeiro ELN, realizada por tropas do Comando Operacional 10 do Exército Nacional, contra os bandos do grupo terrorista encabeçadas pelos irmãos Manuel e Antonio Vásquez Castaño, nas veredas do município de Anorí, localizado no nordeste antioquenho. 

     A brilhante campanha militar foi comandada na área de operações pelo então coronel Hernán Hurtado Vallejo e apoiada com meios logísticos desde Medellín, pelo brigadeiro-general Álvaro Riveros Avella depois da falida operação Trinitario, concebida pelo Comando do Exército para aniquilar em Santander e no Sul de Bolívar a estrutura central do ELN, encabeçada por Fabio Vásquez Castaño, discípulo direto da ditadura cubana.

     Mediante um paciente trabalho de inteligência de combate, análise da área de operações, aproximação com a população civil, flexibilidade permanente de dispositivo tático, vontade vencer, ação psicológica simultânea e coordenada sobre as tropas, os camponeses e os terroristas, somadas à liderança, intuição e capacidade do coronel Hurtado Vallejo para interpretar as mudanças psicológicas e a realidade interna das quadrilhas dirigidas pelos irmãos Vásquez Castaño, o Exército Nacional conduziu uma das mais destacadas operações sustentadas de contra-guerrilhas na história universal.

     No final de outubro de 1973, os remanescentes do ELN que sobreviveram a Trinitario e Anorí constituíam uma minguada quadrilha de bandidos, dentro da qual flutuava um ambiente de suspeitas, dúvidas, temores e indisciplinas, que confluíram em um massacre comunista denominado pelo ELN como a Assembléia de Anacoreto, ao cabo da qual Fabio Vásquez dispôs o fuzilamento de vários dos comparsas que anos antes o acompanharam em semear o terror em Santander, Antioquia, Bolívar, Cesar e parte de Boyacá.

    Por desgraça, uma brilhante vitória militar do Exército Nacional nos campos tático e estratégico-operacional, converteu-se em um rotundo fracasso estratégico-político, devido à miopia estratégica e egocentrismo do então presidente Alfonso López Michelsen que, em conchavo com o governador de Bolívar, Escallón Villa, o super-ministro Jaime Castro e um personagem de sobrenome Utria, urdiram a detenção da operação de remate final e facilitaram a saída do ELN do cerco tático.

     Com isso facilitaram a ressurreição do grupo terrorista, graças a que tempos depois uma célula subversiva infiltrada em uma petroleira, conseguiu o aporte extorsivo de vários milhões de pesos para re-financiar a organização delitiva. 

     Por falta de continuidade político-estratégica e pela natureza humana que afeta todas as instituições, nem os dirigentes políticos, nem as Forças Militares, aproveitaram com total eficácia as lições integrais que surgiram da experiência em Anorí contra o ELN.

     Para complicar o assunto, surgiram outros grupos terroristas como o M-19, o PRT, o ADO, o Quintín Lame e o EPL-PLA que, junto com o crescimento das FARC e a ausência de estratégias concretas para chegar a objetivos nacionais em um país com inclinação atávica à violência politizada interna, prolongam até a data de hoje a existência de guerrilhas com mentalidade cenozóica, a pobreza e o sub-desenvolvimento estrutural, castas corruptas e medíocres no alto governo, ausência de liderança municipal e estadual, e o que é pior: desinformação absoluta da população civil acerca dos destinos do país.

    Valeria a pena que o Ministério da Defesa e o Alto Comando Militar desempoeirassem os arquivos e contatassem os artífices da exitosa Operação Anorí, para extrair dessa experiência os ensinamentos de pontos aplicáveis às atuais operações militares, tais como: 

    Técnicas de seguimento de pegadas, treinamento das tropas de acordo com a área de operações, manejo psicológico da inteligência de combate, coordenação com a população civil, flexibilidade tática dos dispositivos e manobras ao se produzir o contato, pontos de observação e análise do terreno, etc.

Dir-se-ia que a tecnologia mudou o ambiente operacional e que os eventos em Anorí foram outros tempos, vistos com romantismo próprio de uma etapa primária da guerra contra o terrorismo comunista. Entretanto, quem participou em operações de contra-terrorismo rural, sabe que a guerra de contra-guerrilhas demanda paciência, audácia, flexibilidade mental e bom estado físico-anímico, e que, por sua irregularidade tática, o melhor curso de ação é adaptar-se a fatores básicos como o tipo de missão, as capacidades e vulnerabilidades de cada bando, o tempo atmosférico, o terreno e o mais importante: que atividade específica dentro do Plano Estratégico do grupo terrorista, os bandidos desenvolvem em cada região.

    Quarenta anos depois da categórica derrota militar do ELN em Anorí, Gabino, um dos poucos sobreviventes daquela época, encabeça uma nova farsa e uma nova ópera bufa de busca da paz em Cuba, onde o ELN nasceu e teve cúmplices desde sempre.

    O presidente Santos falha ao aceitar-lhes a tendenciosa oferta em honra de sua imerecida re-eleição e vaidosa busca do Prêmio Nobel da Paz, mas também falharam, e isso é um julgamento pendente pela história, os presidentes da República e os ministros de Defesa desde 1973 até a presente data, por não ter decantado com visão científica, estratégica e geo-política, os claros ensinamentos da Operação Anorí.

     A título de auto-crítica positiva, também falharam as Forças Militares e a Polícia Nacional que, por estar empenhadas em combater mil focos de violência orquestradas pelo Partido Comunista e seus cúmplices em mil partes do país, se enredaram nos combates diários, ganharam ou perderam batalhas táticas e inclusive mantiveram a iniciativa tática, porém, difusamente não tiveram o controle político-estratégico da situação, como se reflete nas atuais conversações de Havana.

    A razão é simples: depois de Ruiz Novoa e com exceção de Bedoya Pizarro e Landazábal Reyes, os comandos militares de turno não falaram com suficiente clareza e contundência ao governo nacional, a guerra tem sido vista como um problema entre militares e bandidos, e a paz, como um problema do presidente de turno com os terroristas, enquanto que o resto dos colombianos cai na estupidez coletiva de acreditar que é população civil alheia ao conflito.

    Para rematar, os generais Tapias e Mora iniciaram a nova etapa do mau exemplo aos subalternos para conservar o posto, ao baixar a cabeça frente aos desacertos e decisões inadequadas dos presidentes de turno, até o vergonhoso extremo da recém saída cúpula que tolerou e coonestou as palhaçadas de Santos, como a de disfarçar um filho de Lancero e Forças Especiais, burlar o pagamento dos direitos salariais contemplados na Lei 4 de 1992, ou tirar a Escola Militar para fazer proselitismo a favor da embromação da paz.

     Uma olhada crítica indicaria que, pela dinâmica dos acontecimentos, os generais e almirantes das Forças Militares e da Polícia, desde 1970 em diante, foram treinados e formados como excelentes ou sobressalentes condutores táticos mas sem suficiente concepção estratégica-operacional e sem capacidade de influência político-estratégica, como se reflete em sua reiterada preocupação para incrementar o número de baixas dos bandidos mas sem consolidar áreas geográficas, mediante a participação conjunta do Estado em sua dimensão.

    E por parte dos dirigentes políticos não houve nem concepção tática, nem projeção estratégica, nem sequer amor pela Colômbia. Durante os últimos 50 anos a Colômbia suportou dirigentes com pavio curto e autocratas como Carlos Lleras Restrepo, frouxos e débeis de caráter como os dois Pastrana e Belisario Betancur, politiqueiros oportunistas como Santos, López e Gaviria, vergonhas históricas como Ernesto Samper, messiânicos como Uribe, ou intranscendentes como Turbay e Barco, todos secundados por séquitos de burocratas ansiosos em fincar os caninos na folha de pagamento oficial e obviamente no orçamento, além de viagens ao exterior, diárias e outras prebendas, enquanto os soldados e guerrilheiros se matam entre si e eles desfrutam das delícias de seus cargos.

    Entretanto, o Partido Comunista e seus cúmplices desenvolveram o metodológico Plano Estratégico das FARC, o Plano Vôo de Águia do ELN, originou o aberrante fenômeno das auto-defesas ilegais, coonestou com o narco-tráfico e converteu os campos em cenários da mais ignominiosa guerra entre irmãos, para articular a prolongada desordem civil com rasgos de anarquia, como o refletido na recente greve agrária.

     Este é o dramático perfil da situação político-estratégica da guerra contra o terrorismo comunista na Colômbia, quarenta anos depois da derrota militar do ELN em Anorí. Tudo parece indicar que, em vez de haver melhorado, a situação está pior do que em 1973.

     Esta é, sem dúvida, uma das principais razões para que a Colômbia seja terceiro-mundista, sub-desenvolvida e até catalogada em várias ocasiões como prelúdio de Estado falido, devido à inconseqüência e inaptidão de seus dirigentes, em contraste com o enorme potencial de suas gentes.

 

     Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

      Analista de assuntos estratégicos

     - www.luisvillamarin.com

 

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