Desconcertante ambigüidade de Santos com as Forças Militares

Publicado: 2013-04-13   Clicks: 1953

 

Tradução: Graça Salgueiro

     A já prolongada ambigüidade de Juan Manuel Santos frente às Forças Militares é desconcertante porque, mesmo que o oportunista mandatário diga o contrário, sua falta de clareza incide diretamente na moral, no estado de ânimo, no compromisso individual e coletivo e, evidentemente, nos ansiados resultados operacionais positivos em defesa da paz, da tranqüilidade, na democracia e na institucionalidade do país.

    Em que pese nesta última semana Santos tenha dedicado esforços a louvar as tropas e a rotular de “inimigos do processo de paz”, de “gestores de propaganda negra”, de “dinossauros” e de “mentirosos” aos que com muita razão questionam que, por andar embelezado em sua re-eleição, Santos permitiu que as FARC o manipulem, circula pela rede e pelos comentários que se ouvem entre oficiais e sub-oficiais de grau de tenente-coronel para baixo, circula uma corrente de insatisfação, rechaço e dúvidas acerca da lealdade de Santos com os militares e do eventual êxito das negociações de paz em Cuba.

    As razões destas dúvidas têm componentes históricos mensuráveis e verificáveis. Santos foi ministro da Fazenda, ministro da Defesa e agora presidente da Colômbia. Nessas três posições tão sensíveis para o bem-estar das tropas, teve a faca e o queijo na mão mas não fez o suficiente para solucionar um incrível problema de violação da lei por parte dos governos Gaviria, Samper, Pastrana, Uribe e Santos, os quais, apesar de ser mandato da Lei 4 de 1992, também fizeram muito pouco para que os salários dos militares e policiais se nivelem de acordo com o IPC.

    Ao mesmo tempo, o decadente serviço de saúde militar é cada dia mais angustiante para os que passam à reserva, pois a incapacidade administrativa, a burocracia, a improvisação e talvez até presumíveis casos de corrupção, são o pão de cada dia em dispensários e hospitais militares.

   Em vez de avançar nos sistemas, as aplicações, os trâmites eletrônicos, por deduzível corrupção, os gênios civis assessores de alta administração inventaram de instalar um monumento à ineficiência e à inaptidão denominado Call Center no qual, depois de um interrogatório sem sentido, os operadores respondem com o maior descaramento: “Não há vagas, as agendas estão fechadas, tente a partir de 15 do próximo mês”.

    E quando se trata de respaldo jurídico, centenas de oficiais, sub-oficiais e soldados são vítimas de coletivos de advogados decompostos moral e eticamente, que só aspiram a encher os bolsos ou os de seus cúmplices das FARC, com condenações contra o Estado e encarceramentos de militares inocentes denunciados por cartéis de testemunhas falsas, provas espúrias e evidentes vieses ideológicos. E em honra da verdade, Santos não fez maior coisa a respeito.

    Porém, sua pouco clara “lealdade” e “louvações públicas” aos soldados e policiais não acabam aí. Sem ter a mais mínima idéia de estratégia militar operacional, nem de manejo de tropas e talvez nem sequer de graus militares no Exército, Santos se auto-atribuiu ser o “cérebro tático” da Operação Xeque e presa de sua infinita vaidade, expressou em diversos cenários que,“modéstia a parte, sou o melhor ministro de Defesa da história da Colômbia”.

    Porém, essa auto-imaculada bondade e capacidade cerebral dirigente de tropas, não se viu refletida quando de maneira cínica recusou assumir alguma responsabilidade pelas prováveis execuções extra-judiciais de Soacha e outro erros procedimentais de seus dirigidos. Ao melhor estilo de um medíocre general de sobrenome Pedraza Peláez que mal integrou o Exército, Santos é o dono dos êxitos das tropas, pois os erros e fracassos são de seus subalternos, que nunca poderiam igualá-lo em sapiência, brilho estratégico e habilidade política.

    Em campanha presidencial, Santos prometeu continuar a luta frontal contra o narco-terrorismo comunista, mas no dia seguinte à sua posse chamou Hugo Chávez de seu “novo melhor amigo”, teve o descaramento de dizer que as FARC já não estão na Venezuela, e iniciou uma luta pessoal contra seu antecessor sem precedentes nos últimos cem anos de vida republicana, que nem sequer se iguala ao sucedido nas nefastas épocas de violência liberal-conservadora.

    Como se fosse o monarca Juan Manuel I, Santos imitou os britânicos. Enviou seu filho, o príncipe Conde de Hato Grande ou talvez Marquês de los Altos del Rosal, para fazer a pantomima de prestar serviço militar. E, claro, encontrou gente sem critério mas com iniciativa que fizeram o jogo do rei e suas presunções de aparentar que até seu próprio rebento faz parte das tropas, portanto, estas nunca serão traídas.

    O pricipezinho não só foi distinguido como Lancero, algo que de acordo com os regulamentos militares é uma especialidade de combate estipulada para oficiais e sub-oficiais de excelsas virtudes profissionais, senão que lhe impuseram uma condecoração que tampouco corresponde aos soldados. Já em dezembro de 2012, o príncipe andava pelos batalhões vestido com uniforme camuflado impecável, boina de Lancero e medalha no peito, distribuindo presentes de Natal aos demais “companheiros soldados”...

    Qualquer coisa parecida com uma monarquia africana é pura coincidência. Tropicalismo barato em sua mais extensa dimensão.

    Iniciada a ópera bufa das conversações de paz em Havana, Santos escolheu a dedo o general Mora, ao que parece como representante das Forças Militares, o que não é certo. Para essa escolha não houve participação nem individual nem coletiva das organizações da reserva ativa, nem seu nome foi submetido à consideração de ninguém, nem houve espaços democráticos para analisar seu papel e a conveniência desta farsa para a segurança nacional e a projeção do país. Simplesmente foi nomeado e ponto.

     Tampouco teve-se em conta que durante o lapso em que Mora esteve como Comandante do Exército (1998-2002) e Comandante Geral das Forças Militares (2002-2004), as tropas padeceram quase todos os maiores descalabros táticos da história colombiana, incluindo o “remate de corrida” com a morte em cativeiro de alguns militares, do ex-ministro Echeverri Mejía e do governador de Antioquia, além de carregar a vergonha histórica de haver desocupado o posto de comando do Batalhão Caçadores no Caguán, para que onde antes ondeava o pavilhão nacional, durante três anos e meio se tivesse içado um trapo com as insígnias das FARC.

    Uma semana antes do show midiático da participação presidencial na “marcha pela paz” azeitada pelas FARC, Santos visitou vários quartéis para louvar as tropas mas, claro, sem tocar nos temas salarial, de saúde e de defesa jurídica.

    Em contraste, Santos preparou sua “jogada mestra de jogador de pôquer”: tirou os ases de sua premeditada viagem aos quartéis. Com dinheiro dos contribuintes colombianos e o apoio da Cruz Vermelha, financiou a extração segura e custodiada para Cuba de vários terroristas desde o Cauca, o Meta e o Guaviare.

     Para lavar a imagem, Santos meteu os militares e policiais em seu programa pessoal de publicidade orientada à re-eleição e Prêmio Nobel da Paz. Em um discurso demagógico e irregular, ante centenas de uniformizados no Monumentos aos Caídos em Ação, vociferou que as Forças Militares não serão negociadas em Cuba.

   Do dito ao feito há muito trecho. Com antecedentes como os descritos, é muito difícil entender qual é a verdadeira atitude de Santos frente às Forças Militares que, além de sustentá-lo em seu atual cargo, foram os que lhe deram os êxitos para que pudesse se candidatar à presidência.

   Há crescente descontentamento entre as tropas que, por razões óbvias e de disciplina militar, não expressam ante os altos comandos, nem muito menos ao presidente e o ministro da Defesa. É uma corrente de desconcerto, incredulidade e ceticismo que merece ações inteligentes imediatas de solução aos três problemas enunciados e de enriquecimento mental dos quadros de comando, a partir da liderança real e concreta, pois a “Fé na Causa” do general Navas não pode ser uma saudação à bandeira nem um lema a mais do comandante de turno.

   Tampouco se consegue com medidas coercitivas, com caça às bruxas, nem assinalando os “gestores da propaganda negra”. Muito menos com politicagem egocêntrica e displicente, porque se cai a moral combativa das tropas, de nada servem aviões, tanques, helicópteros, visores noturnos, inteligência de satélite, nem os príncipes-lanceros. E o que é pior para Santos: não terá quem o proteja em seu egocêntrico trono de veleidades e auto-suficiência pseudo-monárquica.

    Conclusão: a ambigüidade de Santos frente às Forças Militares é desconcertante e... imprevisível.

    Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

     Analista de assuntos estratégicos – 

    www.luisvillamarin.com

 

 

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