Mitos e realidades das conversações de paz com as FARC em Cuba

Publicado: 2013-03-02   Clicks: 1846

 

     Tradução: Graça Salgueiro

     Luis Alberto Villamarin PulidoAo completar-se os primeiros cem dias das estéreis conversações de paz em Cuba entre o governo colombiano e alguns cabeças das FARC, é pertinente fazer um exame do ocorrido desde 19 de novembro até hoje, para pontuar uma série de mitos e realidades que os meios de comunicação teceram ao redor do pouco claro processo: 

 

    Mito 1: As FARC se sentaram à mesa de conversações em Cuba, devido a que estão derrotadas militarmente.

    Realidade 1: As FARC não foram derrotadas militarmente. Estavam sepultadas politicamente e por miopia político-estratégica somada ao desejo re-eleitoral de Juan Manuel Santos, aproveitaram a oferta de conversações para recuperar presença midiática, com o objetivo concreto de buscar reconhecimento internacional como força beligerante e fortalecimento estrutural do Movimento Bolivariano Clandestino que hoje encabeçam um sancocho [1] político marxista-leninista, coincidente em todas e cada uma das proposições de Alfonso Cano no Caguán, em abril de 2000.

    Mito 2: As conversações vão por bom caminho e desta vez certamente haverá acordo de paz.

     Realidade 2: Enquanto as FARC desenvolvem com milimétrica precisão seu Plano Estratégico, o governo nacional chegou à mesa sem objetivos concretos, sem negociadores preparados e sem um plano coerente. De La Calle disse que o governo não seria refém deste processo mas a verdade é que, cumpridos cem dias, as FARC deram o ritmo, dirigiram os tempos e dilataram os temas, da mesma maneira como enrolaram os governos de Belisario, Gaviria, Samper, Barco e Pastrana.

    Mito 3: As FARC estão divididas entre guerreiristas e políticos. Enquanto em Cuba estão os “políticos”, os guerreiristas ficaram na Colômbia.

     Realidade 3: O mesmo diziam os sapientes analistas do conflito quando Cano e Tirofijo estavam vivos. Com os computadores de Reyes, Jojoy e do próprio Cano, ficou claro que inclusive Cano era mais criminoso e sanguinário que o próprio Tirofijo. A realidade desta idéia desfocada gravita nas técnicas de desinformação utilizadas pelos comunistas armados e desarmados para enganar o inimigo de classe, e no crescente desconhecimento do Plano Estratégico das FARC por parte de todos os colombianos. Ademais, em todas as conversações anteriores estiveram os chamados políticos, não os encarregados diretos das Frentes, como Alfonso Cano, Iván Márquez, Raúl Reyes, Pablo Catatumbo, Simón Trinidad, Carlos Lozada, etc.

     Mito 4: As FARC não têm capacidade para a tomada do poder, porque não representam nada nos campos político e armado.

    Realidade 4: Este mito deriva-se do desconhecimento do Plano Estratégico das FARC, que parte do preceito comunista da combinação de todas as formas de luta, então, todas as atividades abertas e clandestinas das FARC e de seus cúmplices apontam para o objetivo político final. Enquanto o mundo avança a passos agigantados, para os comunistas não há afã porque este desenvolvimento tecnológico é apenas uma contradição do capitalismo, que deve ser aproveitada pelos revolucionários armados e desarmados.

   Mito 5: O processo de paz está submisso à re-eleição de Juan Manuel Santos.

    Realidade 5: O processo de paz está submisso a este e a qualquer outro governo sem importar quem seja o presidente de turno, para que o Estado chegue à mesa de conversações com negociadores idôneos que tenham desenhado previamente um plano estratégico com alternativas coerentes e, obviamente, a solução dos problemas sociais e econômicos das zonas deprimidas que facilitam a ação propagandística das FARC e ELN, de recrutamento de camponeses para a guerra.

    Mito 6: A participação da “sociedade civil” é espontânea e livre de ingerências.

    Realidade 6: Só a coincidência de que os “líderes pacifistas” nas zonas de colonização armada instauradas desde há várias décadas pelo Partido Comunista e as FARC, sejam os mesmos que aparecem como “defensores dos direitos humanos” colaboradores de idéias ao Foro Agrário e além disso testemunhas em processos contra membros da Força Pública, indicam que por trás destes “espontâneos” representantes da sociedade civil estão o Movimento Bolivariano Clandestino, o Partido Comunista Clandestino das FARC, as Milícias Bolivarianas, e suspeitas organizações sociais e políticas especializadas em caluniar toda pessoa que questione as pouco claras origens do dinheiro que financia a propaganda paralela das FARC.

    Mito 7: Para avançar nos acordos de paz, é necessária a trégua bilateral.

    Realidade 7: As FARC necessitam livrar-se da pressão militar para incrementar o adestramento militar e a capacidade operacional de suas quadrilhas, de acordo com o estabelecido no Plano Estratégico. Esta proposta é um ardil político-estratégico das FARC para meter um cavalo de Tróia. Poderia funcionar se as FARC se concentrassem em cada região, em um só lugar do qual não pudessem se mover durante o processo, todos os terroristas, as redes de milicianos, os membros do Partido Comunista Clandestino e o Movimento Bolivariano.

    Mito 8: Os governos do Equador, Venezuela e Nicarágua já não apóiam as FARC.

    Realidade 8: Tudo o que foi achado nos computadores de Raúl Reyes é certo e além disso, continua intacto como projeto continental de unificação político-organizacional do socialismo do século XXI. Nesse sentido, estes governos são cúmplices das FARC no tráfico de narcóticos e na busca de reconhecimento político internacional para o bando terrorista.

    Mito 9: A segurança democrática está igual ou melhor do que no governo anterior.

    Realidade 9: Nem era certa a alegre e espumosa afirmação do general Padilla com o “fim do fim”, nem muito menos o governo Santos tem as FARC encurraladas. Pelo contrário, com a estúpida decisão de negociar em Havana lhes facilitou o caminho para fazer uma conferência ou um Pleno ampliado, recuperar a unidade monolítica de ação e estruturar as ações terroristas de milícias bolivarianas em Nariño, Cauca, Valle, Chocó, Caquetá, Huila, Tolima, Meta, Arauca, Guajira, Norte de Santander, etc.

   Mito 10: As Frentes estão dedicadas aos negócios particulares de cada cabeça, que não têm quase nada para comer, e que há sentimentos de repulsa contra o Secretariado.

    Realidade 10: Se isso fosse certo, a Força Pública não apreenderia amiúde carregamentos de armas e municiamento provenientes do Equador, Venezuela ou América Central. Se fosse certo que o médico “Mauricio” do Bloco Oriental e “Joaquin Gómez” do Bloco Sul não compartilham da ópera bufa do processo de paz em Cuba, já teriam se tornado independentes publicamente, pois a defesa dos postulados marxistas-leninistas lhes teria imposto. Conclusão: este mito é produto da imaginação requentada de analistas deslocados, ou parte do estratagema de contra-inteligência fariana, ou uma soma das duas.

   Em síntese, estes mitos com suas respectivas realidades são apenas os perfis de um mostruário do que acontece na Colômbia frente a um processo de negociação de paz que completou 100 dias com muito barulho de tonel vazio e nenhuma conclusão favorável ao país.

    A única coisa certa é que a guerra continua, que as FARC e seus cúmplices continuam empenhados em ganhar espaço político e em aplicar a frase de Sun Tzu: “A guerra é a arte do engano”, pela simples razão de que, enquanto para Santos a negociação de paz com as FARC é seu trampolim re-eleitoral, para as FARC as conversações de paz fazem parte da trama de sua guerra narco-terrorista contra a Colômbia.

    Nota da tradutora: 

    [1] “Sancocho” é uma comida típica da Colômbia semelhante a uma sopa, onde vão juntos muitos ingredientes: caldo, arroz, feijão, pedaços de carne de porco, frango, legumes e em algumas regiões, pedaços de milho cozido. Por ser uma “mistura” de muitas coisas num só prato, costuma-se usar a expressão para qualquer coisa que tenha muitos elementos misturados.

    

Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

    Analista de assuntos estratégicos

     www.luisvillamarin.com

 

 

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