Tradução: Graça Salgueiro
A saudação de ano novo do “estado-maior central” das FARC à militância do Partido Comunista Clandestino coincidiu com o Foro Agrário dirigido pela Universidade Nacional e a ONU, do qual saiu uma tonelada de sugestões para que os negociadores do governo as analisem com os terroristas que representam as FARC na mesa de conversações em Havana-Cuba, situação que na realidade favorece às FARC, que evidentemente necessitam desta cantinflada [1] e outras similares, para dilatar as estéreis conversações como já fizeram em processos de paz anteriores.
Aparentemente não teria nada de novo na saudação escrita em Cuba, com a mentira de que foi enviada desde as “montanhas da Colômbia” pelos cabeças das FARC às suas estruturas políticas clandestinas, se não fosse porque o comunicado não leva a assinatura do Secretariado das FARC, constituído por Timochenko e outros seis bandidos, senão pelo “estado-maior central” que é integrado pelo Secretariado e os cabeças de todas as Frentes.
Disto se infere que a aprovação da referida saudação contou com o aval de todos os cabeças de Blocos e Frentes das FARC, que sem dúvida estão reunidos em Cuba adiantando a Décima Conferência das FARC ou, pelo menos, um plano ampliado para desenhar a linha de ação política e armada depois de 20 de janeiro de 2013, quando finalizar a farsa da suposta trégua fariana de Natal.
Chama a atenção que os mudos passeadores, encabeçados por Humberto De La Calle, regressaram à Colômbia para não passar as festividades de fim de ano trabalhando em Cuba, ao que se comenta, com o propósito de que as duas partes avaliassem a tonelada de propostas surgidas do Foro Agrário em Bogotá.
Naturalmente, os cabeças das FARC, a ditadura cubana e os comunistas caviar do continente receberam com alvoroço este gesto de debilidade e irresponsabilidade do governo Santos, pois seu “inimigo de classe” os deixou bem instalados, com todas as facilidades de modo, tempo e lugar, além das cumplicidades necessárias para se dedicar em aperfeiçoar os conteúdos do Plano Estratégico das FARC.
Vamos por partes: esta semana Piedad Córdoba, que por estranha coincidência aparece no cenário midiático cada vez que as FARC necessitam concretizar algum estratagema, afirmou que o resumo das conclusões do Foro Agrário estarão prontas depois de 14 de janeiro. Tal data coincide com o provável reatamento da farsa de conversações em Havana.
Resulta que a auto-denominada “sociedade civil” que participou das mesas de trabalho do Foro Agrário, é integrada por alguns personagens que aparecem nos quadros dirigentes nacionais, regionais e municipais do movimento político que, ao que parece, agora é o braço político das FARC dentro da Colômbia.
Muitos desses personagens foram os mesmos que promoveram as mesas de paz com o Congresso da República nas regiões, e alguns deles são os que inventam supostos desaparecimentos de seus integrantes e por meio de pasquins apadrinhados até por uma senadora em exercício e um muito questionado coletivo de advogados, caluniam descaradamente na Internet a quem ouse perguntar de onde saem os dinheiros para financiar a custosa campanha midiática dos auto-denominados “Colombianos pela Paz”.
Além disso, na saudação de ano novo dos cabeças das FARC aos camaradas do Partido Comunista Clandestino (cujos dirigentes não são tão clandestinos) insistem em:
“O fortalecimento do trabalho de massa deve continuar sendo prioridade de nossa atividade como revolucionários”.
“Devemos ter sempre presente que esse trabalho se concretiza e se materializa com o exemplo individual dos dirigentes”.
“Por isso, temos de nos esforçar dia-a-dia em ser coerentes e conseqüentes com a política de nosso Partido, em ser cada vez melhores revolucionários, cada vez mais capazes, mais dignos e mais exemplares ante nosso povo”.
“Sabemos e reiteramos que o trabalho partidário nas atuais condições nos impõe um rigoroso acatamento às normas do trabalho clandestino, o respeito ao segredo, à compartimentação e à verticalidade”.
“Chamamos a fazer destes princípios o guia de nosso agir cotidiano. Passá-los por alto implica pôr em grave perigo o trabalho denodado e sacrificado de milhares de militantes de todo o país, assim como oferecer triunfos fáceis ao inimigo”.
“Enfrentemos este ano que começa com a inteireza dos que nos propomos pela transformação da pátria, com o sustento do marxismo-leninismo e o pensamento bolivariano. Com o exemplo dos que nos traçaram o caminho: Manuel, Jacobo, Raúl, Iván, Alfonso e Jorge”.
“Pela Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo!”
Porém, há algo mais para discernir em torno do objetivo político-estratégico das FARC com estas conversações de paz sem norte nem porto de chegada, para o governo e seu séquito de mudos passeadores em Havana:
Confrontem-se as diretrizes que Alfonso Cano esboçou em abril do ano 2000 no Caguán, durante o lançamento do Movimento Bolivariano Clandestino, com esta saudação de Natal, com o intenso trabalho político e armado das Milícias Bolivarianas em Meta, Huila, Caquetá, Putumayo, Guaviare, Vichada, Arauca, Cauca, Nariño, Valle, Chocó, Norte de Santander e as zonas de presença comunista de velha data, ao mesmo tempo com o trabalho político-organizacional do braço político das FARC, apresentado agora como um movimento amplo de massas de diversas ideologias que exige proteção estatal para não repetir o fracasso da UP (União Patriótica).
Por seus frutos os conhecereis, diz a Bíblia.
E se a isto soma-se a marcada diminuição de combates contra a Força Pública e a elevada redução de bandoleiros dados baixa em combate durante 2012 frente às cifras dos outros anos, é pertinente concluir que desde há vários anos os cabeças das FARC mudaram o centro de gravidade de seu Plano Estratégico para o trabalho político na massa camponesa, operária e estudantil dentro do país, simultaneamente com o ingente trabalho da Frente Internacional para buscar legitimação paralela, dentro e fora do país com status de beligerância.
Enquanto isso, as Frentes refinam a capacidade armada para retornar à guerra quando as camadas dos governos vizinhos os reconheçam e os apóiem como exército revolucionário.
Não obstante a clareza dos fatos, as FARC encontram idiotas úteis em todos os estamentos que iludidos acreditam que desta vez haverá sim acordos de paz, diz-se porque as FARC estão derrotadas e por isso se sentaram para conversar... Ver para crer que a estupidez desinformativa pode-se converter em idiotice coletiva!
Nota da tradutora:
[1] “Cantinflada” refere-se ao comediante mexicano Cantinflas.
Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
Analista de assuntos estratégicos -
El coronel Luis Alberto Villamarín es especialista en temas de defensa nacional, geopolítica y estrategia general. Autor de 19 libros relacionados con el narcoterrorismo internacional, el conflicto armado en Colombia y la historia del continente. Algunas de estas obras han sido traducidas a portugués, inglés, alemán, francés y polaco. Como analista de asuntos político-estratégicos ha participado en paneles de expertos en Discovery Channel, Univisión, NTN 24 y Televisión Española.
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