Tradução: Graça Salgueiro
A evolução dos fatos derivados da tormenta midiática e opiniões de todos os setores acerca das razões pelas quais a Corte de Haya sentenciou contra a Colômbia, pouco a pouco dão clareza de tudo o que ocorreu e como, ao que parece, se urdiu a trama.
Aceitar a mediação da Corte de Haya ocorreu em fins de 2001, quando as FARC estavam convencidas de que ganhariam a guerra e derrocariam a institucionalidade, durante o pusilânime e descaracterizado governo de Andrés Pastrana, poucos meses depois de que, em plena campanha presidencial para voltar ao poder na Nicarágua, o terrorista desmobilizado Daniel Ortega entrou no Caguán para condecorar seu compincha Tirofijo com a medalha Augusto Sandino, criada pelo FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional) para ressaltar a todos os inimigos da liberdade e da paz no continente.
Dadas as circunstâncias de modo, tempo e lugar, não seria desatinado supor que provavelmente aceitar a mediação da Corte Internacional de Haya para que, ao final, a Nicarágua ficasse com boa parte do mar territorial que historicamente era colombiano, foi uma das múltiplas e reiterativas imposições das FARC ao fraco presidente Andrés Pastrana Arango.
Ortega foi re-eleito presidente da Nicarágua e as FARC reencontraram em território nica um descampado ideal. Os computadores de Raúl Reyes dão conta das tramas urdidas pelos funcionários diplomáticos nicaragüenses creditados ante a ditadura cubana em Havana, em honra de legitimar as FARC, e inclusive há um comprometedor correio eletrônico em que Ortega oferece alguns fuzis aos terroristas para que continuem a guerra contra a Colômbia.
O descobrimento da conexão FARC-Ortega ficou mais claro durante a Cúpula de Países do Rio efetuada em Santo Domingo, poucos dias depois da morte de Raúl Reyes. Com aspecto de sicário de bairro pobre, o grotesco e briguento mandatário nicaragüense insultou o presidente Uribe, e finalmente exteriorizou sua ira não contida pela morte de Reyes em território equatoriano, onde era apadrinhado por Rafael Correa, outro pitoresco presidente com pinta de matador de esquina.
Como é sabido, após a operação militar na qual caiu Reyes, sobreviveram três terroristas que ficaram feridas: uma mexicana mentirosa e leguleia, e duas colombianas, uma das quais foi desamarrada de uma árvore pelas tropas que abateram o chefe das FARC, pois ela estava amarrada ali por ordem de Raúl Reyes para fazer-lhe um “julgamento revolucionário” que obviamente terminaria “jogando-a no buraco”.
Porém - oh, surpresa! -, em uma das habituais conchavadas comunistas de solidariedade de classe, Ortega e Correa se puseram de acordo para levar as três bandoleiras a Manágua e conceder-lhes asilo político. A trama incluiu mentir para a Colômbia acerca da missão de um avião da Força Aérea Nicaragüenses que sobrevoou espaço aéreo colombiano para ir até Quito e regressar a Manágua, com a suposta missão de recolher um equipamento militar.
Dois anos depois o irmão de Rodrigo Granda, utilizado pelas FARC como testa-de-ferro de centenas de propriedades, foi deixado em liberdade por uma estranha e até suspeita decisão judicial, em que pese a quantidade de elementos probatórios que o vinculavam como financiador do narco-terrorismo comunista contra a Colômbia. Poucos dias depois da questionável decisão do juiz que conhecia o caso, o irmão de Granda apareceu exilado na Nicarágua com cerimônia de boas-vindas presidida por Ortega, que dias antes havia dito no Foro de São Paulo que ele é partidário da paz e de legitimar os terroristas das FARC. Seguramente que este bandido hoje está em Cuba coordenando atividades da Frente Internacional das FARC.
E enquanto tudo isto acontecia, a Nicarágua teve Carlos Argüello por perto de uma década como embaixador ante a Haya, dedicado a fazer lobby aos burocratas da ONU nomeados não por méritos, senão por questões politiqueiras como juízes da Corte Penal, sem que os sucessivos governos colombianos, nem os chanceleres, nem os burocratas que foram negociar tivessem feito nada para se opor à aberta estratégia sandinista.
Finalmente, o Congresso da República foi dissimulado. Por Haya desfilaram sete embaixadores colombianos que, como os toureiros, levaram suas naturais quadrilhas de burocratas imprestáveis e deram diárias a alguns “experts internacionalistas” cujos nomes e ribombantes títulos acadêmicos só lhes servem de vergonha pessoal, descrédito às universidades que os graduaram e infâmia para a nação colombiana.
Há algo mais. A ditadura cubana e o governo comunista da Venezuela tinham interesses muito concretos neste tema. Não é descartável, e a cada dia saem à luz mais evidências de que a mão poderosa de Chávez ($$$) incidiu nessa sentença espúria, primeiro pela ideologia compartilhada com Ortega, segundo para provocar dano à Colômbia e abrir a brecha da eventual demanda pelo arquipélago.
Terceiro, para preparar o terreno para o provável reclamo venezuelano por Guajira e Arauca, e quarto, para ter a possibilidade colocar a Força Naval Venezuelana em apoio a seu amigo Ortega e da exploração de hidrocarbonetos no mar que pretendem roubar da Colômbia, além do que antes da sentença na Bolsa de Nova York já se havia iniciado a cotizar para um projeto petrolífero e gasífero nessa zona.
Como se fosse pouco, por falta de visão estratégica, desconhecimento da geo-política circundante e ânsia politiqueira de se aferrar ao poder com re-eleição imediata, o clã Santos contatou as FARC para uma paz que só eles acreditam, com Venezuela e Cuba como fiadores, quando todo mundo sabe que vários cabeças das FARC têm até gabinetes no Fuerte Tiuna em Caracas, que os irmãos Castro estão em permanente contato com as FARC e que como confessou Enrique Santos (o revoltoso dos anos sessenta), Timochenko viaja com freqüência a Havana.
Porém, a miopia geo-política e estratégica dos governantes colombianos não parou aí. Nem sequer se deram conta de que o retardo intencional para iniciar a segunda fase de conversações com as FARC foi prorrogada para o mesmo dia em que os duvidosos magistrados de Haya sentenciaram contra a Colômbia, pois isso se infere que já era de conhecimento prévio de Ortega, Chávez e Fidel. O único que não sabia era Santos. Muito menos sua leviana chanceler.
A razão deste golpe midiático, complementado pelo calculado anúncio das FARC de iniciar uma trégua unilateral de dois meses, reúne todos os componentes de uma das habituais artimanhas das FARC, da ditadura cubana, de Chávez e em geral, da típica conduta dos comunistas, hábeis para mentir e enganar até no momento de respirar.
Por outro lado, aterra e fede o leguleismo barato dos que, agarrados a um santanderismo estúpido, alegam que a Colômbia deve entregar o mar territorial à Nicarágua, que não se deve desacatar a sentença, etc. Míopes como têm sido os intelectuais e sabichões que orientaram mal a Colômbia, parecem não entender que os comunistas da ALBA não vão ficar quietos nem contentes com esse tramo de mar territorial. Querem o arquipélago completo e, por extensão, toda a Colômbia, para metê-la no curral do socialismo do século XXI.
E qual é a contra-prestação dos comunistas armados e desarmados para seus sócios internacionais, por ajudá-los nesta entramada estratégia conjunta? Claro e simples: entregar à Nicarágua todo o arquipélago de San Andrés e o mar territorial. Ceder à Venezuela a Guajira e Arauca, e submeter o governo de transição que o Partido Comunista Clandestino pretende ao arbítrio da ditadura cubana. Por isso todos os cúmplices das FARC guardaram silêncio calculado a respeito.
Não obstante, ocorre como nas tragédias das ondas invernais. Os habitantes das cabeceiras dos rios e das margens das quebradas sabem que virão nefastas inundações e deslizamentos de terreno, mas todos continuam lá, mesmo quando acontecem as tragédias. Assim estamos como os que acreditam que o problema é a liderança regional de Santos, a tradição civilista da Colômbia e mil leguleios mais. Tudo isto enquanto o inimigo avança a passos agigantados com base em um articulado plano estratégico.
Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
Analista de assuntos estratégicos -



