Tradução: Graça Salgueiro
Pela enésima vez as FARC voltam a sair com as suas. Como dizia Tirofijo: “Se a oligarquia diz que não, perde. E se diz que sim, perde também”. Com três calculadas cartas com linguagem florida, Timochenko jogou outro ás para repetir a mesma metodologia para iludir a sempre desorientada direção política colombiana, os jornalistas empenhados na mentira e os analistas do conflito, aqueles que pontificam do divino e do humano da guerra, sem havê-la vivido, nem muito menos ter lido o Plano Estratégico do grupo terrorista.
Nada de novo sob o sol. Os mesmos “ventos de paz” sopraram nos anos oitenta quando de costas para a realidade nacional mas de frente para suas intenções egocêntricas, Belisario Betancur nomeou uma comissão de paz integrada por sábios em tudo, menos em negociar com o Partido Comunista e seu braço armado, que nessa época acumulavam 30 anos de preparação para esse cenário manipulador.
Em que pese que as conversações de Casa Verde foram um fracasso para o estabelecimento, e em que pese que as Forças Militares advertiram com clareza que as FARC saíram ganhadoras dessa emboscada populista de Belisario, seu sucessor Barco caiu no mesmo erro. E depois César Gaviria mordeu o anzol com “ventos de paz” nas conversações de Cravo Norte, Caracas e Tlaxcala. Do mesmo modo as FARC saíram ganhadoras e a Colômbia sacrificada, porque os negociadores dos respectivos governos sabiam mais de outros temas do que de fazer frente à estratégia política e armada da combinação.
Porém, se a estupidez e a falta de informação do estabelecimento fosse pouco, o veleidoso presidente Pastrana Arango inventou um processo de paz sem nenhum objetivo concreto, com negociadores bisonhos e ineptos mas, quando não pôde conter o monstro de mil cabeças que se formou, Pastrana comprometeu o país em uma guerra mais sangrenta do que já havia sido: sem nenhum objetivo nem clareza conceitual. Pela quarta vez consecutiva as FARC e o Partido Comunista saíram ganhadores com o tema dos “ventos de paz”.
Com a nefasta intromissão de Hugo Chávez e Piedad Córdoba na suposta libertação dos seqüestrados, voltou a ficar claro que os terroristas e seus cúmplices internacionais “querem a paz”. Inclusive antes de morrer Jojoy tinha montado uma ópera bufa com o jornalista Jorge Enrique Botero, no qual o mais sanguinário de todos os cabeças das FARC apareceria ante o mundo como um cruzado pela paz, ao lado da terrorista holandesa Tanja.
Quando Cano morreu, apareceu nos meios de comunicação em Cali um sacerdote tão desinformado quanto oportunista, com o argumento de que “velho, cego e indefeso” (quase como para canonizá-lo), Cano morreu quando tentava aproximações pela paz. Antes de morrer Tirofijo dizia o mesmo. Hoje, Timochenko joga essa carta ante a opinião pública para ver se a Colômbia morde a isca e cai no anzol.
Embora em público Santos exteriorize tons fanfarrões de que não cederá ante as argúcias das FARC, em privado sonha com a re-eleição derivada de um exitoso processo de paz. Parece que sua passagem pelo Ministério da Defesa foi em vão e, fora isso, que o atual ministro tampouco o assessora nestes temas, como se evidenciou na emboscada da CELAC em Caracas, onde Timochenko e as FARC saíram com as suas diante de 33 presidentes de nações do hemisfério.
Então, outra vez há “ventos de paz”. Mais uma vez as FARC e o Partido Comunista com um braço clandestino (que nem é tanto), voltam a tirar vantagem político-estratégica. A amnésia colombiana é total. Em menos de um mês a opinião pública esqueceu que, por ordem de Timochenko, os terroristas das FARC assassinaram a sangue frio quatro seqüestrados que levavam mais de uma década em seu poder.
Se se aprofunda um pouco, a situação foi similar durante 30 anos sem que o governo de turno aprenda. Durante a época de Casa Verde as FARC dilataram a assinatura do acordo de trégua e cessar fogo, com argumentos tais como seu desejo de que se levantasse a base militar de Uribe-Meta, enquanto de maneira cínica negavam, como continuam fazendo até agora, sua responsabilidade em seqüestros extorsivos.
Por fim, o senador comunista Alberto Rojas Puyo trabalhava mais como moleque de recados de Jocobo Arenas do que como delegado do governo nacional, e de forma desleal o informava por meio de mensageiros das FARC acerca de tudo o que o governo pensava, do mesmo modo que parece ter acontecido com quem nos computadores de Reyes e Jojoy se identifica com os cognomes de “Teodora” e “Gaitán”.
A farsa do Caguán foi calcada no estratagema de Casa Verde. Hoje, há vozes que propõem diálogos no exterior que certamente seriam a repetição da farsa de Tlaxcala e Caracas, com a circunstância agravante de que os comunistas Rafael Correa, Hugo Chávez, Evo Morales, Daniel Ortega, Dilma Rousseff, a Kirchner, Mujica e Lugo lhes dariam embaixadas e tratamento como “lutadores políticos”.
Fatos reais indicam que Santos não tem um plano estratégico coerente para uma eventual negociação com as FARC. Nem sequer existe um ente encarregado de dirigir o tema. Se Santos pensou em uma comissão de paz com vistas a derrotar as FARC na mesa de negociações, é algo ultra-secreto, pois devido a seu populismo demagógico não se conhece nenhum plano claro de como organizá-lo, nem quais serão os objetivos precisos.
É tal a desordem em torno ao tema que Chávez rompeu a promessa de não interferir em assuntos internos da Colômbia, quando anunciou sua vontade de mediar na solução ao conflito. É algo articulado. Chávez cravou o punhal nas costas de Santos durante a Cúpula da CELAC onde, além disso, a ministra Holguín demonstrou ignorância maiúscula acerca do tema e da forma de ser do novo melhor amigo de Santos. Por essa razão, as FARC e os comunistas voltaram a sair com as suas.
E para cúmulo dos males contra a Colômbia, Chávez designou como Ministro da Defesa o militar venezuelano mais próximo aos cabeças das FARC, com os quais tem um acordo de velha data, consistente em dividir a fronteira bi-nacional em três seções para que os Blocos Norte, Magdalena Medio e Oriental das FARC entrem e saiam da Venezuela com a cumplicidade da Guarda Nacional e da Força Armada desse país, e desde lá continuem a guerra contra a Colômbia como se reflete no incremento de ações terroristas no Norte de Santander e Arauca.
Isso sem contar que Chávez e Ahmadinejad urdiram acordos secretos em torno das FARC na semana passada, pois sua relação com o bando terrorista é vital para sua re-eleição, para os objetivos a longo prazo de seu projeto bolivariano e para sua campanha continental anti-yanqui.
Além disso, as FARC na era Timochenko gravitam sobre o Plano Estratégico que é um programa narco-terrorista de guerra contra a Colômbia, não uma opção de paz, a qual é interpretada pelo Partido Comunista como a derrota contra o capitalismo e a imposição de uma ditadura similar à cubana.
Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido*
Analista de assuntos estratégicos -