“Os terroristas do M-19 optaram pela violência ante a oferta de paz”: General Arias Cabrales

Publicado: 2012-01-15   Clicks: 1845

 

 
 
Entrevista realizada por Ricardo Angoso
 
Preso, processado e condenado pelos acontecimentos do Palácio da Justiça, ocorridos em novembro de 1985, o general Jesús Armando Arias Cabrales foi o militar que dirigiu e coordenou tal operação seguindo as ordens dadas pela institucionalidade política colombiana e libertando quase três centenas de reféns. Ninguém foi julgado por esses atos, porém, em que pese ser a última cadeia de comando lhe imputam vários supostos desaparecimentos, que ele nega com convicção, e que o levaram a ser um réu da justiça de seu país, em que pese que os terroristas que “desenharam” o holocausto do Palácio da Justiça estejam atualmente na rua e gozem de todos os privilégios, como ocupar importantes cargos políticos.
 
Em que contexto se produziu a tomada do Palácio da Justiça? É certo que o presidente da República de então, Belisario Betancur, estava “seqüestrado” pelo Exército?
 
Quis-se especular ao redor desse assunto, de que havia um golpe de Estado mas, realmente, seguindo a tradição do Exército colombiano ao longo de sua história, as Forças Armadas sempre acataram a ordem institucional e legal estabelecida na Colômbia. Nesse momento, entretanto, se apresentavam situações difíceis e que diziam respeito à ordem pública porque havia organizações terroristas e guerrilheiras que ameaçavam o sistema democrático, entre elas o M-19, que estavam negociando em um processo de paz com o Executivo, sua re-inserção na vida política colombiana. E houve grande generosidade por parte das instituições e mais concretamente por parte do presidente da República, já que libertou dos cárceres a maior parte de seus dirigentes e que não foi correspondido pelos terroristas, que seguiram com sua estratégia delitiva de ataques terroristas indiscriminados, entre os quais se destacavam os assassinatos, os seqüestros, as extorsões...
 
Eles atacavam tanto as Forças Armadas como a todos os setores da sociedade, desde as empresas até cidadãos indefesos. O M-19 optou pela violência, enquanto que o Executivo lhe oferecia a mão estendida para buscar a paz. Sobre essas jornadas dramáticas do Palácio da Justiça, e com relação a isso, existem documentos oficiais do governo e da presidência que mostram a notável atividade das instituições para pôr fim à afronta que significava a tomada do máximo centro judiciário pelos terroristas. Depois, mais tarde, o presidente da República assumiu toda a responsabilidade, “para o bem ou para o mal”, da tomada do Palácio da Justiça e das ações que se tomaram para tal fim. Eu acredito que a guerrilha defraudou as expectativas que a sociedade colombiana tinha e, mais concretamente, as mais altas instituições que confiavam em levar a bom porto o processo de paz, posto em marcha após a anistia decretada por Betancur.
 
É certo, tal como dizem alguns, que se esperava esse assalto ao Palácio da Justiça?
 
Houve algumas informações sobre que havia planos de que, coincidindo com a visita do presidente da República francesa, em outubro de 1985, o M-19 tramava tomar o Palácio da Justiça. Assim foi possível que se extremassem as precauções e se enviasse mais policiais ao edifício.
 
Porém, em princípios de novembro, se retiraram os efetivos e retomou-se a normalidade. Mas o clima era de suma tensão, pois muitos magistrados estavam ameaçados pelos narco-traficantes, os chamados extraditáveis, porque eles não queriam que fossem enviados aos Estados Unidos para ser julgados. O que tratavam de evitar era ser extraditados e julgados, para continuar gozando da impunidade, e esgrimiam então que “mais valia uma tumba na Colômbia do que um cárcere nos Estados Unidos”.
 
Entretanto, um argumento que deslegitima totalmente a tese de que o Exército propiciou o assalto e a tomada do Palácio da Justiça pelos terroristas do M-19, é o fato de que no dia deste acontecimento o comandante do Exército, o general Samudio Molina, a quem o M-19 já havia tentado matar, encontrava-se dentro das instalações, precisamente às dez da manhã. E a essa hora já havia membros do M-19 dentro do Palácio da Justiça, dando-se a casualidade de que ele saísse do edifício apenas meia hora antes de que começasse a tomada violenta das instalações judiciais. Ele não teve contratempos mas tampouco tinha proteção especial. Como podia haver essa disposição ao assalto e criar essa suposta ratoeira se dentro estava o mesmíssimo chefe do Exército? Essa teoria é totalmente ilógica e a deslegitima esta presença à qual acabo de me referir.
 
O narco-tráfico estava realmente, mais concretamente Pablo Escobar, por trás da trama na qual participavam os terroristas? 
 
Desde quando começou a investigação sobre estes fatos apontou-se essa tese. Inclusive a apresentadora de televisão e jornalista Virginia Vallejo, bem conhecida na Colômbia por todos, que foi amante e amiga de Pablo Escobar, já acusou o narco-traficante e os líderes do M-19 de terem se reunido para preparar a trama que levou à tomada do Palácio da Justiça. Também houve acusações por parte de outros setores da delinqüência, como o conhecido chefe do narco-tráfico “Popeye”, que assegura que existiu sim essa reunião entre o M-19 e Pablo Escobar, para preparar e financiar a operação terrorista que devia levar à destruição da documentação que se preparava para extraditar os narco-traficantes. Tratava-se de paralisar a ação da justiça e de ganhar tempo para que não se aprovasse o Tratado de Extradição entre os Estados Unidos e a Colômbia. O Cartel de Medellín, do qual formava parte Pablo Escobar, parece ser o autor intelectual dessa tomada do Palácio da Justiça, segundo as evidências. Como também há provas de que a guerrilha recebeu armas dos sandinistas e inclusive havia um membro dessa força nicaragüense entre os integrantes do grupo de assalto. As armas, muitas delas, também procediam da Nicarágua, bem como da antiga guarda somosista ou compradas diretamente pelo Executivo de Managua.
 
Pode me contar como transcorreu esse fatídico dia 6 de novembro para o senhor?
 
Nesse dia eu tinha uma reunião protocolar, de tipo regulamentar, sobre assuntos militares e estando lá, onde me encontrava, ouvi uma informação pelo rádio de que havia uma situação anômala nos arredores do Palácio da Justiça, na Praça de Bolívar. Depois, mais adiante, já no meu quartel, recebi mais informação acerca da gravidade do que estava ocorrendo. Fomos aquartelados e nos pusemos à disposição para atuar e acatar as ordens. Assim começaram os preparativos para as operações e começamos a receber as primeiras ordens sujeitas aos planos previstos, como o Plano Tricolor das Forças Armadas. Desde o princípio, os objetivos estavam claros: tomar o Palácio da Justiça, libertar os reféns e devolver o país à normalidade, após um fato que o havia deixado absolutamente fora de si.
 
O presidente da República na ocasião, Belisario Betancur, esteve a par das ordens e controlava a situação o dia todo? 
 
Meu interlocutor imediato era o Comandante do Exército e, pelo que sei, a todo momento recebíamos ordens claras do presidente da República para intervir e pôr fim a essa situação anômala que estávamos vivendo. Evidentemente, e seguindo a cadeia hierárquica, eu nunca falei com o presidente. Foi-nos informado claramente que seguíamos as ordens que emanavam do Governo, tal como depois revelaram alguns ministros em declarações e livros, assim como na documentação que o Executivo elaborou nesse dia. O Governo do país estava à frente da situação e os militares simplesmente obedecíamos suas ordens, tal como é nossa tradição.
 
Nunca houve interferências por parte do poder político para levar a cabo as operações militares que se desenvolviam para libertar o Palácio da Justiça, apesar de que dentro do edifício estavam seqüestrados o irmão do presidente da República, Jaime Betancur, e a esposa de um ministro do governo. Primou, por parte do Executivo, de que se restabelecesse a ordem e se resgatassem os reféns. Havia que voltar à normalidade e evitar cair na tentação de seguir os ditados dos terroristas do M-19. Não esqueçamos que o M-19 pretendia que o presidente fosse ao Palácio da Justiça para ser submetido a um “julgamento” pelos terroristas, algo totalmente inadmissível e inaceitável para o país. Pretendiam submetê-lo a um “processo revolucionário”, a uma espécie de farsa jurídica para deslegitimá-lo por supostamente havê-los traído no processo de paz e, ao mesmo tempo, desautorizá-lo ante o país.
 
Por que o presidente da República se opôs a negociar com o M-19 e não aceitou os chamados que lhe faziam desde dentro do edifício para que o fizesse?
 
O presidente, em sua alocução do dia seguinte, já deixou bem claro que a soberania do país não era negociável e que ele era obrigado a cumprir com suas funções e tarefas constitucionais, tendentes a restabelecer a ordem legal e política do país. Negou-se a falar com o presidente da Corte Suprema, Alfonso Reyes Echandía, porque estava ameaçado e era seguir os ditados dos terroristas. Depois do segundo dia, em 7 de novembro, o presidente dispôs que um representante da Cruz Vermelha se apresentasse no Palácio da Justiça ocupado pelo M-19 e transmitisse uma mensagem ao grupo que tinha os reféns seqüestrados. Ele entrou com um megafone, foi-lhe dada proteção adequada para não ser lesionado, e ele começou a transmitir a mensagem do presidente.
 
Sabe qual foi a resposta?
 
Os terroristas começaram a disparar e silenciaram a mensagem; essa foi sua disposição para negociar: as armas. O emissário da Cruz Vermelha que portava a mensagem me entregou o documento e foi-se para sempre, dando por concluída sua falida missão.
 
Dizem que o presidente daquela ocasião não disse ainda a última palavra acerca destes acontecimentos, é verdade?
 
Algumas pessoas próximas ao presidente sustentam que ele estava examinando a possibilidade de escrever um livro, uma espécie de testamento acerca destes acontecimentos. Algumas vezes até me procuraram para recolher informações que eu tinha acerca desse assunto. Eu acredito que se este livro ou testamento se publicar algum dia, será depois de sua morte.
 
Como é que não se julgou os políticos que tomaram as decisões sobre as operações e, entretanto, os militares, como o senhor, foram processados? 
 
Adiantaram-se várias investigações desde o poder Legislativo e ficaram desculpados, tanto o presidente da República como seu ministro de Defesa da época, já que não se encontraram evidências substanciais para que fossem processados por estes fatos. Concluiu-se que não havia nenhuma responsabilidade e quase toda a cadeia de comando também ficou exonerada de responsabilidade sobre este fatos. Então, e resumindo, é incompreensível que só dois dos responsáveis, nos escalões mais baixos da cadeia de comando, sejamos os que estamos detidos por estes acontecimentos.
 
Quem se encarregou dos reféns enquanto saíam libertados e depois?
 
No Museu do Florero, um edifício histórico do centro de Bogotá, instala-se uma central da Polícia para coordenar as operações. Depois, quando se entra no Palácio da Justiça, muitos dos reféns são dirigidos até ali para proceder a pertinente identificação e se prestasse ajuda aos que necessitassem, pois havia muitos feridos. Esta função cumpre-se nos dias 6 e 7 de novembro, em umas circunstâncias dramáticas e difíceis, dadas as condições nas quais saíam muitos reféns. No total, não esqueçamos, foram resgatados 265 reféns. A Polícia Nacional reassumiu essas responsabilidades de segurança das instalações, ficando os reféns libertados sob sua custódia, e os militares retornamos aos quartéis depois da liberação do Palácio da Justiça em 7 de novembro. O Exército não tem nenhuma responsabilidade nesses fatos que sucederam depois da tomada e em algumas negligências ou erros procedimentais que se cometeram no manejo dos restos humanos encontrados no interior do Palácio da Justiça.
 
Os procedimentos de identificação das vítimas e dos reféns foram feitos com as garantias suficientes e de uma forma eficiente?
 
Houve falhas, ou erros, é necessário manifestar isso, inclusive foram reconhecidos por alguns dos que trabalharam após a tomada do Palácio da Justiça nessas diligências. Dificultaram-se os trabalhos de identificação porque não se realizaram bem as tarefas de recolhimento dos restos e dos cadáveres carbonizados. Além disso, muitas provas foram danificadas pelos bombeiros durante os trabalhos para apagar o incêndio que os terroristas haviam provocado. Há que assinalar, também, que alguns cadáveres, dado seu grau de carbonização, não puderam ser identificados e foram enterrados em uma cova comum, que mais tarde foi exumada por ordem judicial. Porém, tampouco esqueçamos que na época não havia os meios científicos que há agora para identificar os restos encontrados.
 
Houve boa coordenação entre os distintos corpos das forças de segurança e do Exército durante os acontecimentos?
 
Com as dificuldades próprias da grave situação que se vivia, é necessário assinalar que a Polícia atuou com celeridade e senso de responsabilidade. Uma das primeiras vítimas foi um tenente da Polícia que acudiu quando ouviu os primeiros disparos dentro do Palácio da Justiça, já que os terroristas entraram matando e ferindo vários civis que trabalhavam lá.
 
Quando as forças militares chegaram à Praça de Bolívar, a Polícia já estava trabalhando para pôr ordem e tratar de normalizar uma situação que depois derivou em tragédia. Houve uma boa coordenação, inclusive com os bombeiros, entre todas as instituições e forças presentes no cenário do conflito.
 
O senhor acredita que o governo da época esteve à altura das circunstâncias?
 
Creio que o M-19 partia de um pressuposto errado, que era a experiência que haviam tido quando tomaram a embaixada da República Dominicana, e acreditavam que podiam voltar a repetir a “façanha”.
 
Nessa ocasião tiveram êxito, levaram dinheiro e se refugiaram em Cuba com a ajuda das autoridades comunistas da ilha. Conseguiram tudo o que queriam e saíram vitoriosos. O M-19 pensou que a tomada do Palácio da Justiça ia repetir o mesmo esquema, e assim atestam os documentos que se encontraram com os terroristas. Eles falavam abertamente de aniquilamento e levavam armas para estar um tempo mais longo que o previsto, tal como fizeram na embaixada dominicana. O que não esperavam era a reação do Governo, esse espírito de não negociar e render-se ante o terrorismo. Também quero destacar que durante esses dois dias houve uma liberdade total de informação, e deixou-se os meios de comunicação operar no cenário com todas as garantias possíveis. A transparência foi total, não houve limitações de nenhum tipo.
 
Depois de se haver encerrado este assunto do Palácio da Justiça há anos, como é possível que se reabra o caso de novo e os senhores estejam detidos?
 
Em primeiro lugar, estes fatos foram separados do serviço militar propriamente dito e julgados à margem do mesmo, então, ficaram fora do foro militar e sob o encargo da justiça ordinária, como se não tivéssemos recebido as ordens das instituições pertinentes, o que constitui um disparate. Quer dizer, que os fatos foram julgados e interpretados como algo alheio à ordem que tínhamos nesses momentos, que correspondiam indubitavelmente ao foro militar, e quase como que uma decisão pessoal nossa, alheia a toda a institucionalidade. Nós, entretanto, o que fizemos foi assistir na defesa do Estado, que perigava naqueles momentos, e atender ao encargo que nos foi entregue pelas instituições pertinentes nessas trágicas jornadas. Ademais, no caso dos generais e almirantes, junto a outras autoridades do Estado, quem é pertinente para julgar seus feitos é o Promotor Geral da Nação que é a instituição que deve investigar, e a Corte Suprema de Justiça a instância que deve julgar-nos e não um juiz ordinário. A nossa investigação não se ateve a essa norma jurídica e se desconheceu o funcionamento de nossa própria justiça.
 
Os fatos do Palácio da Justiça ocorreram no ano de 1985 e nos imputam o delito de desaparecimento forçado, que é uma figura delitiva que vem aparecer no Código Penal colombiano no ano de 2001; se nos aplica com uma retroatividade que vai contra o Direito em qualquer parte do mundo. Outro aspecto importante é que se fizeram investigações administrativas após os fatos e esclareceu-se que não deveriam continuar as investigações, pois não se encontraram elementos delitivos e inclusive se procedeu em termos absolutórios. A justiça militar também ditou que não havia responsabilidades e que não se detectavam indícios de delito nos responsáveis pelos fatos que agora são julgados. Estávamos exonerados e, de repente, nos vimos de novo julgados. Imputam-nos fatos que não existiam no momento da tomada do Palácio da Justiça e que já foram investigados e julgados de forma absolutória aos que agora estamos sendo de novo processados e condenados. Vulnera-se uma norma universal do direito julgando fatos pela segunda vez, desprezando todas as investigações e sentenças absolutórias.
 
Depois, de acordo com a norma legal colombiana, aos vinte anos de um delito os fatos prescrevem e a responsabilidade também, algo que se vulnera e se passa por cima. Reabre-se [o processo] porque se assegura que são delitos de lesa-humanidade e que, neste caso, não prescrevem, como o do desaparecimento forçado, que como já disse é um delito do ano de 2001 e que não existia no ano de 1985. Foi a Promotoria quem reabriu o processo pelos supostos desaparecidos que não são tais, e que inclusive alguns estão vivos, como até os meios de comunicação demonstraram. Resumindo: abre-se um processo contra todas as normas jurídicas do país e atendendo somente a um critério que eu considero político.
 
Não esqueçamos que depois dos fatos, o presidente da República de então, Belisario Betancur, já deixou claro que ia haver transparência e clareza e instruiu as instituições pertinentes para que analisassem e estudassem com profundidade os fatos acontecidos no Palácio da Justiça. Trabalharam durante meses para esclarecer os fatos e uma corte especial formada por vários juízes de todas as cores políticas determinou que a responsabilidade final de todos os atos criminosos que aconteceram no Palácio da Justiça recaía sobre os terroristas do M-19, que atacaram e tomaram o edifício judicial de uma forma suicida e destinada a semear o terror, tal como fizeram. Também se assegurou então que não havia desaparecidos, algo que agora se quer pôr em dúvida e que é o principal motivo pelo qual nos vimos julgados. Os desaparecidos pereceram no assalto do M-19 e não na operação de resgate, e os cadáveres não puderam ser reconhecidos porque ficaram carbonizados, foi impossível determinar sua identidade. Ditou-se nesse momento que os desaparecidos eram 36 cadáveres carbonizados e que hoje são reclamados como supostos desaparecidos por alguns dos familiares dessas vítimas.
 
Tratam de identificar algumas destas vítimas como libertados na ocasião pelas forças de segurança do Estado e que depois, segundo dizem sem nenhum fundamento, foram dados baixa e supostamente desaparecidos. O problema é que estes supostos desaparecidos e o conseqüente processo que se seguiu contra nós está liderado por René Guarín Cortés, que é irmão de uma das supostas desaparecidas e que casualmente é um antigo guerrilheiro, membro precisamente do grupo que assaltou o Palácio da Justiça, o M-19. Inclusive ele foi detido na ocasião portando armas de policiais assassinados e transportando um industrial seqüestrado.
 
Este tal de Guarín manipulou os familiares para que digam que reconhecem como seus familiares a alguns dos libertados, e que assegurem ante os juízes que são desaparecidos. Porém, pode-se demonstrar que muitas destas asseverações eram falsas e chegou-se à conclusão de que algumas testemunhas mentem. Deu-se mais credibilidade a um convicto do M-19 do que a alguns militares que estiveram a serviço do Estado. Depois, neste novo julgamento descartaram-se provas que nos beneficiavam e aceitaram-se outras, contra toda a norma de direito, que nos implicavam em atos que não havíamos cometido. Em definitivo, foi uma montagem para justificar nossa condenação e apresentar o Exército como uma organização criminosa.
 
Porém, não esqueçamos que por trás destas condenações, que buscam que o Exército e o Estado colombiano sejam condenados nas altas instâncias jurídicas internacionais, há um coletivo de advogados, o Alvear Restrepo, que procura conseguir uma indenização milionária que não irá parar nas mãos das vítimas em sua totalidade, pois esse coletivo, por certo ligado à defesa de presos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), levará uma percentagem da “fatia” que teoricamente tirarão do Estado colombiano. Trata-se de grupos extremistas que têm um interesse político claro, de denegrir o Estado colombiano e suas Forças Armadas, e também interesse econômico.
 
Por outro lado, e em outra ordem de coisas, também há elementos de dúvida a respeito de algumas testemunhas que não são confiáveis e cujas declarações estavam repletas de contradições e mentiras. Trata-se de três testemunhas que não eram sólidas e inclusive um deles era um delinqüente vulgar. E o outro estava, durante aqueles acontecimentos, detido em uma prisão. Não eram testemunhas confiáveis, escassamente apresentáveis ante um tribunal sério, senão que tinham interesses políticos e econômicos obscuros no processo. Eram testemunhas absolutamente inconsistentes.
 
Que interesse político pode haver por trás destas ações judiciais contra comandos colombianos?
 
Trata-se de desprestigiar o governo e as instituições e, ao mesmo tempo, desqualificar as forças de segurança e o Exército; é uma estratégia de certa esquerda radical que não é nova e sempre esteve presente em nosso país.
 
Porém, há um objetivo de mais calado, que pretende que as Forças Armadas vejam-se desmoralizadas e deixem de agir frente ao terrorismo, ao perceber que sua atuação pode lhes trazer problemas e contenciosos jurídicos. Já não temos só a ameaça militar de que as forças terroristas possam te matar, senão que inclusive podemos ser processados por lutar contra as FARC e tratar de derrotá-las. É uma luta contra o Estado colombiano, porém por outras vias e empregando meios políticos e jurídicos, tanto na Colômbia quanto no exterior.
 
O mais grave é que os líderes e responsáveis pelas ações criminosas levadas a cabo pelo M-19 estão nas ruas e foram perdoados pelo Estado colombiano. Inclusive, muitos deles participam da vida política e são responsáveis em muitas instituições colombianas, até um membro desta organização terrorista foi candidato presidencial, sem que sequer tenha pedido perdão pelos fatos cometidos naquela ocasião. Os terroristas ficaram nas ruas, enquanto que aos militares que lutamos contra eles nos imputam crimes horríveis.
 
Os fatos do Palácio da Justiça aconteceram em novembro do ano de 1985, às portas de umas eleições na Colômbia. Os opositores ao governo estavam interessados em obter desses acontecimentos um dividendo político, tratavam de erodir o Executivo e, de passagem, as Forças Armadas. Queria-se abrir um debate desnecessário e permanente sobre a atuação da força pública nestes fatos. Os que estão por trás deste assunto turvo têm uma filiação política muito clara, à parte dos interesse econômicos para tratar de tirar do Estado colombiano substanciais indenizações pela condenação de seus funcionários. Gente que está claramente matriculada na esquerda e que se dedica a proteger notórios extremistas quando são detidos. Refiro-me, é claro, ao coletivo de advogados Alvear Restrepo.
 
Como é que os responsáveis não foram processados por estes fatos e, ao contrário, os militares foram sentados no banco dos réus?
 
O presidente da República de então, através dos canais procedentes, autorizou todas as ações realizadas pelo Exército naquelas jornadas fatídicas em que o Estado correu perigo. A operação foi ordenada desde as mais altas instâncias e nunca foi questionada pelo Executivo.
 
No mesmo dia em que se concluíram as operações militares que levaram à liberação do Palácio da Justiça, o presidente saiu na televisão nacional em uma alocução retransmitida para todo o país, assegurando que, “para o bem ou para o mal”, o responsável final de todas as decisões foi o presidente da República. Porém, tampouco foram processados os ministros responsáveis e os chefes militares que estavam na cúpula nesse momento. As ordens foram dadas desde as altas instituições e seguiam o procedimento previsto para uma situação de emergência, como aquela que estávamos vivendo no momento.
 
E como não se resolveu este assunto, inclusive na época do presidente anterior, Álvaro Uribe?
 
O processo foi deliberadamente retardado para esperar que houvesse uma mudança política, é óbvio.
 
E para onde vai evoluir este processo?
 
Estamos na fase de recurso e apelação. Temos alguns elementos que nos beneficiam e o Ministério Público interveio a nosso favor. Minha defesa já apelou nas instâncias adequadas e estamos na fase do recurso de apelação, da mesma forma que a Procuradoria também atestou a meu favor pedindo a absolvição, devido às numerosas irregularidades em que se celebrou o processo. Os argumentos da minha defesa no julgamento não foram atendidos nem examinados pela juíza que me condenou, que eu considero que lhe movia um móvel mais político que outra coisa, pois considerava o Exército, quase subjetivamente, como uma organização criminosa.
 
Seus subordinados nesse momento atenderam a todas as ordens dadas?
 
Seguiram-se os planos previstos e a operação para uma ação como a que se realizou. Não podíamos continuar tocando a campainha para que a guerrilha nos abrisse a porta, senão que teve-se que empregar métodos e meios contundentes para derrubar as portas do Palácio da Justiça e entrar para salvar os 265 reféns que libertamos naqueles dias.
 
Fica claro, segundo sua opinião, que a responsabilidade final destes atos fúnebres corresponde ao M-19?
 
Sim, mas sem esquecer que o narco-tráfico estava por trás, que deu o dinheiro para a operação e que tinha um objetivo muito claro: destruir os informes e processos que se estavam elaborando para permitir extraditar os narco-traficantes, algo a que se opunham por todos os meios, inclusive a violência. A Corte Suprema de Justiça ia decidir, precisamente nesse dia, sobre a exeqüibilidade do Tratado de Extradição entre a Colômbia e os Estados Unidos.
 
Os narco-traficantes queriam retardar esse processo de que maneira fosse, e ficava muito claro que os magistrados eram seus principais inimigos, aos quais já haviam ameaçado em reiteradas ocasiões. Há provas disso e alguns documentos que atestam essas ameaças. Eram os dias nos quais os narcos diziam que preferiam uma tumba na Colômbia a uma cela de uma prisão nos Estados Unidos. Era pública sua animosidade para com a justiça e assim o faziam saber em seus comunicados públicos. Chegaram a assassinar o Ministro da Justiça e a alguns magistrados para intimidá-los e evitar a extradição. O M-19 recebeu dinheiro do narco-tráfico para ocupar o Palácio da Justiça e cumpriram as ordens dadas: destruíram todos os processos que permitiriam a extradição dos narco-traficantes, porém provocaram um incêndio de tal magnitude que destruiu todo o edifício e inclusive acabou com suas próprias vidas. O incêndio foi impossível de apagar e acabou com tudo o que havia no interior do Palácio da Justiça.
 

Tradução: Graça Salgueiro

 
 

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