Tradução: Graça Salgueiro
O assassinado dirigente Álvaro Gómez Hurtado costumava afirmar que o bom para a Colômbia era um acordo a fundo sobre o fundamental. Quase três décadas depois suas frases não só ganham atualidade, senão que são certas e necessárias em toda sua extensão.
O primeiro passo do fundamental é tirar dos altos cargos públicos as famílias Santos, López, Gómez, Pastrana, Lleras, Peñaloza, Samper, Gaviria, Galán, Lara e demais politiqueiros que não só se imaginam insubstituíveis, como proprietários do país e de seus destinos, portanto, adjudicatários de veículos oficiais com escoltas até para sair para passear no fim de semana, altas posições no mais das vezes imerecidas, ingentes quotas burocráticas e o direito infinito sobre o orçamento nacional, estadual e municipal.
O segundo passo é penalizar essa caterva de bandidos de colarinho branco que muitas vezes com sobrenomes de alta ascendência, sangraram as finanças públicas e por extensão, incrementaram as iniqüidades sociais. É imperativo procurar que a corrupção seja declarada delito de lesa-humanidade, que não vençam nunca seus prazos e que os herdeiros dessas fortunas mal havidas sejam reintegradas ao erário público.
Com estes dois passos transcendentais ao mesmo tempo para mudar a visão e o rumo da Colômbia é imprescindível definir os objetivos nacionais em torno do bem-estar dos compatriotas, da segurança social e da segurança nacional como fonte suprema de estabilidade institucional. O velho conto de que o orçamento não é o bastante é falso.
A corrupção descoberta todos os dias desde há muitos anos, indica que se a metade do dinheiro tivesse sido investido sem mordidas e se uma quarta parte das obras tivessem sido executadas com honestidade, a Colômbia seria o país mais desenvolvido de toda a América Latina. Estas aproximações teóricas indicam os níveis de eterno roubo dos politiqueiros ao erário público e o enorme dano que causaram ao país.
Porém, como a opção não é continuar envolvidos em diagnósticos senão estabelecer alternativas de solução, parece-nos que ante a deslegitimação e deterioração dos partidos tradicionais, a crise de liderança e institucionalidade que campeia na Colômbia, a onda de corrupção em todos os níveis da administração pública, a politicagem reinante e a obsessão das FARC e seus cúmplices do Foro de São Paulo para meter o país no arcaico círculo do comunismo tresloucado, as reservas ativas da Força Pública são o último bastião que resta ao país para sair do atoleiro.
Para tal efeito, requerem-se linhas estratégicas concretas em setores como educação, saúde, agricultura, obras públicas, moradia, regime trabalhista e, em geral, segurança social, somados ao fortalecimento e aperfeiçoamento profissional das Forças Militares, para garantir uma sólida defesa nacional frente à realidade da malta comunista que quer legitimar as FARC.
Dentro deste processo deve-se fazer a paz para acabar com a guerra crônica do narco-terrorismo comunista contra a Colômbia. Urge processar não só as FARC mas a todos os seus cúmplices, inclusive muitos, muitíssimos dirigentes do Partido Comunista Colombiano que, amparados na dupla moral, adotaram o terrorismo e a “luta de classes”. Forçar os terroristas e suas organizações de fachada a que indenizem as vítimas. Levar os cabeças a prisões de segurança máxima para que purguem condenações exemplares pelas atrocidades cometidas e desmobilizar as quadrilhas. Uma negociação com as FARC deve estar orientada à aplicação da justiça contra os delinqüentes. Nunca à sua legitimação, pois elas jamais tiveram nem representaram, nenhum setor da sociedade colombiana fora do seu partido ou braço político.
De maneira simultânea com o manejo político da desmobilização e submissão à justiça dos narco-terroristas, o Estado deve construir obras ligadas a um plano estratégico e viário que inclua aeroportos internacionais nas cinco regiões, rodovias similares às dos Estados Unidos, portos marítimos e fluviais, revisar o tema do canal inter-oceânico em Choco, estradas de ferro que unam os quatro pontos cardinais, metrôs para as grandes cidades, etc. Pensar e atuar grande, contra a corrupção e politicagem tradicionais.
Muitos dirão que isso é sonhar, outros acharão provável mas os que se empenhem em fazê-lo, demonstrarão que é possível. A Colômbia não necessita de discursos “vinte-julianos” [1], nem brigas de comadres entre uribistas e não-uribistas, entre santistas e não-santistas, entre godos e liberais, nem entre comunistas e capitalistas. A Colômbia necessita de justiça social e penal, muita administração, muita visão, muito compromisso e desejo de sair do subdesenvolvimento, com ou sem políticos tradicionais, mas sim com uma força motivadora como a reserva ativa que não só conhece o país, senão que ama a pátria e sabe como se trabalha com dedicação e vocação de serviço honesto por muitos anos.
Nota da tradutora:
[1] “Vinte-juliano” refere-se à data de comemoração da independência da Colômbia, 20 de Julho, quando os políticos fazem discursos empolados e gradiloqüentes.
Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
Analista de assuntos estratégicos