Há fissuras na cúpula das Forças Armadas colombianas?

Publicado: 2011-04-20   Clicks: 2137

 

     Análisis del conflicto colombiano

     Tradução: Graça Salgueiro

     Em crítico artigo, a recente edição da Revista Semana sugere que há sérias divergências entre os comandantes das instituições armadas colombianas, derivadas de ciúmes profissionais, pouca credibilidade na capacidade militar do Almirante Cely e o desaforado protagonismo midiático do General Naranjo à frente da Polícia.

     Todo rumor tem algo de certo e este não seria a exceção dessa regra. No caso de Celis, não só se trata de que não inspira liderança militar em operações de contra-terrorismo rural entre as tropas, senão que evidentemente desconhece o tema, pois em sua folha de vida, muito brilhante para temas navais, não aparece nenhuma prova contundente de sua idoneidade em operações aero-terrestres contra as FARC, o ELN, as AUC ou outro grupo terrorista.

    Por sua parte, não é segredo para ninguém que o general Naranjo não só se crê mas atua como uma roda solta. Os cabos de WikiLeaks foram reveladores ao extremo. Parece que antes de falar com seus superiores hierárquicos Naranjo primeiro presta contas à Embaixada dos Estados Unidos, o que explicaria, por muitos uniformizados e civis, o questionado título de “Melhor Policial do Mundo”, assim como a estranha e portanto ressaltante eficiência da inteligência da Polícia colombiana.

    Tornou-se costume ver e escutar nos noticiários da televisão colombiana que morreram vários terroristas das FARC em uma operação combinada da Polícia e da Força Aérea, mas curiosamente aparecem os soldados do Exército tirando os cadáveres dos bandidos dados baixa.

    Sem dúvida, à sua extraordinária habilidade midiática, seu dom para agradar, sua inteligência, seu talento e suas boas relações interpessoais, o general Naranjo soma uma errônea concepção de rivalidade e desejo de superpor a Polícia como instituição ante o Exército, ao que parece, com a anuência dos apoios de inteligência norte-americanos e a inaptidão dos que têm sido ministros de defesa para colocá-lo em seu devido lugar.

     O problema se inicia no híbrido que constitui a Polícia Nacional. Com ironia diz-se que, enquanto temos o melhor policial do mundo, a delinqüência campeia nas cidades e nos campos, o que desafortunadamente é certo.

    Ao examinar a missão da Polícia Nacional, ressalta que tantas e tão variadas funções auto-atribuídas não só a convertem em uma super instituição armada, como em uma roda solta dentro do esquema de segurança nacional, ao extremo de que oficiais da reserva e da ativa da Polícia sugeriram, ou passá-la para o Ministério do Interior ou criar o Ministério da Segurança.

    Não se entende como há tantos agentes da Polícia dedicados a trabalhos que não têm nada a ver com segurança civil, porém que certamente dão à Polícia presença midiática em todas as instituições. Por exemplo: enquanto ladrões, assaltantes e delinqüentes de todas as pelagens inundam as ruas de Bogotá, há centenas de agentes dedicados a servir na Secretaria de Trânsito, ou de ligação no Conselho Distrital, ou no Congresso, ou no governo de Cundinamarca, ou no turismo local, ou em aduanas, ou em rodovias, etc.

    Não se entende a razão pela qual a Polícia defendeu sua condição de Força Armada não-militar para evitar ser comandada e controlada pelo Comando Geral das Forças Militares, mas ao mesmo tempo tem unidades especializadas em contra-guerrilhas rurais, portam metralhadoras 7.62, lança-granadas múltiplas, fuzis de assalto e outras armas de infantaria ligeira.

    Por sua parte, a diferença profissional entre os generais Navas e Matamoros é nítida. Durante toda sua carreira Navas esteve no comando de unidades de combate. É um soldado forjado no campo de batalha com alta ascensão entre as tropas. Seus méritos são por vitórias em combate e por sua têmpera, caráter forte e decisões rápidas.

    Matamoros fez sua carreira em cargos diferentes aos de Navas, por exemplo, em escolas de formação, comissões no exterior, Casa Militar e só uma vez no comando de uma unidade de combate em Arauca. Obviamente, em que pese sua inteligência e qualidades pessoais, Matamoros carece do carisma e liderança que Navas exerce entre as tropas.

    Sem desconhecer as qualidades pessoais e profissionais dos atuais comandantes da Armada Nacional e da Força Aérea, estes oficiais não têm outra opção que atuar dentro da estrutura operacional das Forças Militares e assim o fizeram. Pela natureza de suas funções não podem incidir em eventuais fissuras na cúpula, porém não estão capacitados para liderar tropas terrestres, nem para articular a Polícia ao esquema, com a circunstância agravante da permanente auto-publicidade de Naranjo herdada da época Serrano-Gilibert.

    Finalmente, nenhum dos ministros de Defesa civis se preocuparam em solucionar este problema que tampouco é novo, pois tem ocorrido desde há vários anos. Como temos dito nestas colunas, os ilustres personagens que desde 1991 ocuparam a pasta da Defesa com o falso argumento de representar politicamente as Forças Armadas, sem exceção, só se preocuparam em catapultar-se para outros cargos políticos, ou para meter a mão nos milionários contratos, ou para ambas as coisas.

   Assim, não há ninguém que faça Naranjo entender que ele não é superior às instituições, nem que a Polícia é rival do Exército. Tampouco há quem ensine estratégia, logística, segurança nacional, geopolítica, etc., aos civis que passam pelo ministério da Defesa. Muito menos há quem articule o trabalho das instituições armadas e delimite a multiplicidade de funções policiais que, ao sacudir a peneira, indicam que há mais ruído do que nozes.

    Por essas razões, nem os habitantes civis entendem a defesa nacional porque não há lei que a regule e a articule com o necessário porém inexistente serviço de mobilização de um país em guerra, nem os militares entendem de política. Entretanto, as FARC e seus cúmplices desenvolvem uma estratégia articulada que denominam de Plano Estratégico.

     A Colômbia é a única perdedora de todo este enredo de vaidades e carência absoluta de liderança, comando e controle. Enquanto ao ministro Rivera interessa continuar com sua campanha presidencial para 2014, o general Naranjo anda empenhado em sua auto-imposta superioridade, Navas e Matamoros encarnam duas visões e experiências diferentes da guerra, o almirante Celis ocupa o cargo mas não influi em seus subalternos e os comandantes da Força Aérea e da Armada fazem parte da cúpula, mas sem capacidade de influir para melhorar a situação.

     Tal pareceria ser o quadro derivado do crítico artigo de Semana e, de certa forma, a explicação da diminuição de resultados operacionais, situação à qual se soma um estranho Manual Operacional recém implantado nas Forças Militares, e o temor de alguns comandantes de serem julgados por suas realizações contra os grupos narco-terroristas.

     Seria bom que Santos dedicasse menos tempo a seu desejo re-eleicionista e à sua aberta campanha eleitoral para 2014, que se preocupe menos em adular tanto seu “novo melhor amigo”, que viaje menos que Pastrana, que deixe para trás tanta figuração midiática e que dedique-se à sua função principal: governar.

     E em cumprimento dessa tarefa, que soluciones de uma vez por todas este sério problema de rivalidades, vaidades e ciúmes pessoais que parece poderia dar certo. Porém, claro, a primeira coisa que tem a fazer é dar exemplo a respeito e este passo é muito difícil nele, que se auto-proclamou herói da Operação Xeque, ao mesmo tempo em que escorreu a responsabilidade nas supostas execuções extra-judiciais de Soacha.

 

Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

Analista de assuntos estratégicos –

 www.luisvillamarin.com

 

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