Tradução: Graça Salgueiro
As operações aero-terrestres Fênix, Xeque, Camaleão e Sodoma, realizadas em forma conjunta pelas Forças Militares e Polícia colombianas contra as FARC, articulam contundentes golpes táticos de conotações político-estratégicas na luta da Colômbia contra a agressão do narco-terrorismo comunista e, por sua dimensão, não apenas marcam um fato político-militar a favor do Estado Colombiano, senão o provável giro estratégico do prolongado conflito colombiano, para a submissão definitiva das FARC, assim como uma referência para a doutrina militar moderna contra o narco-terrorismo.
Plano Estratégico das FARC
Por sua privilegiada posição geoestratégica, desde a época da Guerra Fria a Colômbia esteve na mira dos sistemas totalitários comunistas que consideram que, se este país cai em suas mãos, haverá efeito dominó no resto do continente, para o qual é necessário combinar todas as ações legais e ilegais, e articular ações integrais de alto nível tendentes a pôr a cunha marxista-leninista no norte ocidental da América do Sul, mediante o axioma das guerrilhas como estímulo à subversão para a tomada do poder, neste caso, as FARC como braço armado do Partido Comunista Colombiano.
Para tal efeito, denominado com o nome de Plano Estratégico, a estratégia integral das FARC abarca componentes armado, político e financeiro. É o plano de rota que as quadrilhas seguem com estrita rigorosidade para cumprir as diretrizes emanadas das conferências nacionais, dos plenos ampliados e das reuniões do auto-denominado Estado Maior Central das FARC.
A largueza do governo de Andrés Pastrana (1998-2002), herdeiro de quatro governos sucessivos repletos de desacertos (1982-2002), produto do desconhecimento do Plano Estratégico das FARC e de considerar que a limitada resposta militar era suficiente para resolver o problema, fez metástase durante a existência da zona de distensão no Caguán, quando inclusive a revista Time ousou premonizar a “balcanização da Colômbia” dado o crescente posicionamento dos terroristas no entorno nacional e internacional
Naquela ocasião as Forças Militares estavam manietadas, mal dotadas e sem liderança institucional interna e externa. Desde a extensa zona de distensão, as FARC seqüestravam civis e militares, impunham a lei do revólver, amedrontavam o país, praticavam atos terroristas contra a população civil, ordenavam ao resto das quadrilhas destruir povoados distantes, envenenar aquedutos, recebiam delegados de grupos terroristas de todo o mundo, estreitavam relações com os movimentos esquerdistas do hemisfério e Europa, e refinavam diariamente a linha de conduta de seu Plano Estratégico.
Mono Jojoy e Tirofijo dirigiam o programa de crescimento armado orientado a colocar 36.000 terroristas sobre a cordilheira oriental para lançar a ofensiva final contra Bogotá. Com sua característica ironia, Jojoy dizia aos alunos de centenas de cursos de qualificação em guerra de guerrilhas e terrorismo, que o verdadeiro Plano Estratégico era cada um deles com o fuzil na mão, somados aos novos combatentes que recrutam em cada zona do país quando voltassem para multiplicar o que foi aprendido.
Por sua parte, Alfonso Cano, Timochenko, Iván Márquez e Raúl Reyes dirigiam a estratégia política, ao articular os estratagemas publicitários, os ardis de guerra psicológica e o trabalho de difusão propagandístico realizado no exterior pela Frente Internacional das FARC. Cada cabeça atuava de acordo com sua personalidade e habilidades buscando concretizar o plano terrorista.
Sem descuidar da essência dessas tarefas, todos os membros do Secretariado das FARC exerciam pressão constante sobre as Frentes localizadas nas áreas vizinhas a seus acampamentos para que incrementassem os ingressos financeiros derivados do narcotráfico, do seqüestro, da extorsão, da lavagem de ativos, da compra e venda de propriedades e das doações de desinformados europeus.
Reunidas todas estas ações integrais levaram o problema à internacionalização do conflito colombiano, com ingerência em interesses estratégicos e geopolíticos de países vizinhos, Estados Unidos e a União Européia ao extremo que, além de traficar cocaína, estreitar nexos com governantes inclinados ao terrorismo ou de fazer alianças estratégicas com partidos de esquerda, as FARC seqüestraram três contratados civis de uma empresa dos Estados Unidos e a dirigente política colombo-francesa Ingrid Betancourt, ações que puseram um contexto mais amplo e complexo à solução do problema.
O objetivo final traçado por seu braço político - o Partido Comunista Colombiano - é a tomada do poder pela via armada e a combinação de todas as formas de luta, para implantar na Colômbia uma ditadura totalitária marxista-leninista integrada ao projeto continental dos partidos comunistas do hemisfério, denominado Socialismo do Século XXI.
Em síntese, no desenvolvimento do Plano Estratégico, delineado e refinado em cada uma das nove conferências guerrilheiras, as FARC viveram quatro etapas conhecidas como: o bandoleirismo crônico (1964-1978), a barbárie comunista (1978-1982), narco-terrorismo comunista (1982-2010) e terrorismo midiático em busca de status de beligerância (2002 em diante).
A guerra na Colômbia passou do nível tático ao cenário estratégico
A partir da imersão das FARC no narcotráfico e sua conversão no terceiro mais perigoso cartel das drogas, a guerra contra as instituições, a República e a democracia que o braço armado do Partido Comunista Colombiano realiza, virou de maneira gradual desde o cenário tático-operacional em zonas rurais distantes do centro de gravidade do conflito, para combates e ações estratégico-políticas que afetam o governo central ou dependem de suas decisões, quase todas com incidência nacional e internacional.
Com os ingentes ingresos derivados do tráfico de cocaína, as FARC refinaram os detalhes do minucioso Plano Estratégico planejado para a tomada do poder por meio da combinação de todas as formas de luta, qualificaram os cabeças e quantificaram suas Frentes, adquiriram armas, apetrechos e logística em geral, apropriados para melhorar as condições de seus combatentes na guerra de guerrilhas.
O desconhecimento acumulado dos governantes e ministros de Defesa civis durante cinco períodos presidenciais (1982-2002) frente à integralidade do Plano Estratégico das FARC, somado à desordem na vida social e política do país que geraram os cartéis de Medellín e Cali, multiplicou as frentes de combate contra a delinqüência multiforme, incrementou as taxas de criminalidade e favoreceu o trabalho sub-reptício das FARC para recrutar futuros terroristas e fortalecer as estruturas clandestinas das milícias urbanas e rurais, assim como as redes do Partido Comunista Clandestino.
Este conjunto de ações progressivas, contemporâneas com a debilidade governamental dos ex-presidentes Belisario Betancur (1982-1986), Virgilio Barco (1986-1990), César Gaviria (1990-1994), Ernesto Samper (1994-1998) e Andrés Pastrana (1998-2002), permitiu às FARC realizar ações contundentes de caráter estratégico-operacional com conotações políticas, por exemplo, os assaltos terroristas a Las Delicias no Putumayo, Patascoy em Nariño, El Billar em Caquetá, San Juanito em Meta, La Carpa em Guaviare, ou Dabeiba em Antioquia
A esse respeito, Mono Jojoy asseverou em 1999:
“Quando vamos a uma ação militar, fazemos os planos corretos e nesses lugares a guerrilha é maioria. Pode ser um a dois ou um a três. Assim ninguém resiste. Ou se rendem ou ficam feridos e morrem. Os generais têm-se equivocado. Treinam seus homens para fazer patrulhagem nas áreas, para combater pequenos grupos, porém quando lhes aparecem 500 a 1.000 guerrilheiros, depois que se deixam encerrar não lhes resta outro caminho que se entregar”.
Naquela época as FARC falavam e atuavam com arrogância. O derrotismo que circulava entre os dirigentes políticos motivou alguns criadores de gado, industriais e comerciantes a organizar grupos de justiça privada, com auto-defesas ilegais mal chamadas grupos para-militares, integrados por ex-integrantes das FARC e do ELN que passaram para o bando inimigo somente pelo desejo de melhor pagamento, delinqüentes comuns que fugiam da justiça, ex-militares e ex-policiais destituídos por má conduta, e alguns camponeses, vítimas das atrocidades das guerrilhas comunistas.
Uma vez mais o narcotráfico adquiriu preponderância no conflito, até o extremo de que as FARC e as auto-defesas entraram em uma guerra declarada pelo controle das zonas cocaleras, o tráfico de insumos, os negócios da cocaína, a lavagem de ativos e a distribuição de armas adquiridas em mercados ilegais.
De forma paralela a Frente Internacional das FARC, acompanhada por sindicalistas vinculados com as FARC, utilizou cenários acadêmicos e diplomáticos para desprestigiar o governo colombiano, com a finalidade de aparentar bondosa intenção de seus objetivos políticos.
Assim, a confrontação tática em diversos lugares da geografia nacional, posicionou as FARC no cenário estratégico como um grupo terrorista com capacidade desestabilizadora na Região Andina, principalmente porque candidatos com simpatias e identidade ideológica com o terrorismo comunista assumiram as presidências de vários países do hemisfério.
Guerra Psicológica, guerra jurídica e resposta do Estado
Desde o início da agressão comunista armada contra a Colômbia, os comissários do braço político das FARC recorreram a todos os meios legais e ilegais inscritos no Plano Estratégico do grupo terrorista para atacar as Forças Militares, pois são conscientes de que as instituições armadas da Colômbia são o único e mais eficiente bastião interposto entre seus apetitosos desejos de poder e o objetivo final.
Para o efeito utilizaram todas as argúcias próprias da propaganda marxista-leninista, por exemplo, falsas denúncias por supostas vilações dos direitos humanos, testemunhas falsas, provas fabricadas, conivência de alguns juízes e magistrados venais e o poder corruptor do dinheiro do narcotráfico para comprar consciências de funcionários oficiais, ou a intimidação e a chantagem armada contra quem se oponha às suas idéias.
Vistas em seu conjunto, as ações de guerra psicológica e guerra jurídica realizadas pelos terroristas e seus comissários políticos, estruturaram uma cadeia estratégica de propaganda tendente a desmoralizar as tropas, bloquear as ações militares táticas e estratégicas do Estado, e ao mesmo tempo gerar dentro da opinião pública nacional e internacional a idéia de que as FARC não são terroristas, senão vítimas de um sistema de governo injusto e violador dos direitos humanos.
Por razões óbvias a propaganda integral das FARC, paralela às ações táticas maciças às quais se referia Jojoy, contra um Exército manietado em nível jurídico e afetado pela guerra de desinformação proveniente da esquerda revolucionária armada, obrigou o governo nacional e o Alto Comando militar a pensar em buscar soluções de ordem estratégica para o problema.
Não obstante o feito até agora, a resposta do Estado foi insuficiente, descoordenada e carente de objetivos concretos. Sem respaldo político, nem decidido comprometimento da direção política de turno, o Exército Nacional levou durante várias décadas a totalidade da carga da guerra, frente a uma justiça infiltrada pelas FARC e funcionários públicos corruptos em todos os níveis da administração.
Porém, em meio dessa desordem tática, estratégica e política, a operatividade militar do Exército como principal força de combate contra o narco-terrorismo conseguiu a implementação do Plano Colômbia contra o narcotráfico, com o primeiro resultado tangível na ativação da Brigada contra o Narcotráfico, a Brigada de Aviação do Exército e em geral, o Plano de Desenvolvimento do Exército, com as brigadas móveis, os batalhões de contra-guerrilhas, o Plano Energético-Vial, a tecnificação da inteligência militar e a qualificação do treinamento das unidades de Forças Especiais para realizar operações aero-terrestres sobre objetivos táticos de alto valor estratégico, como vem ocorrendo desde 2008 e se sintetiza nas operações Fênix, Xeque, Camaleão e Sodoma.
Tecnificação da Inteligência Militar
Das simples redes de informantes manejadas com escassos recursos e poucas possiblidades de infiltrar ou penetrar estruturas terroristas de nível tático, o nível estratégico que alcançou a confrontação forçou o Governo Nacional e as Forças Armadas a tecnificar os serviços de inteligência, mediante a capacitação especializada de analistas e entrevistadores, a dotação de equipamentos modernos de interceptação de comunicadores, e apoio de imagens via satélite.
A tecnificação da inteligência militar na Colômbia cresceu ao mesmo tempo com exitosas operações aero-terrestres que de forma sucessiva foram afetando as finanças das FARC, sua estrutura orgânica em torno do Secretariado e a projeção que vinha em processo do Plano Estratégico do grupo terrorista.
Mediante um eficiente esquema operacional consistente em localizar as coordenadas geográficas dos acampamentos dos cabeças, confirmar os dados com fotografias e vídeos satelitais, observação de patrulhas táticas de inteligência de combate treinadas para navegar em uma área rural sem ser detectadas, e dados precisos acerca do inimigo, do tempo e do terreno, as Forças Militares e a Polícia propiciaram golpes contundentes contra as FARC em diferentes lugares da Colômbia, em particular contra os cabeças que, produto da debilidade governamental acumulada entre 1982 e 2002, eram famosos por semear o terror e a inquietação em suas áreas de influência.
Assim caíram vários terroristas, entre eles, Martín Caballero na Costa Atlântica, El Negro Acacio no Vichada, Raúl Reyes no Equador, Domingo Biojó e XXX em Putumayo, Jojoy em Meta, Marco Buendía em Cundinamarca, El Paisa em Antioquia, Felipe Rincón em Tolima, Sonia La Pilosa em Caquetá e outros.
Dentro de um esquema análogo realizaram-se as operações Camaleão e Xeque, nas quais além da precisão matemática da inteligência militar, também se converteram em duas operações de guerra psicológica de nível estratégico, com profunda incidência nos elementos intangíveis do poder de combate das FARC, com particular ênfase na moral combativa, na liderança interna e a fé na causa dos guerrilheiros de base e dos comandos médios.
Produto destas operações de Forças Especiais, o fantasma da traição começou a rondar as estruturas das FARC com conseqüentes fuzilamentos. Assim, os rumores de infiltração da inteligência inimiga aumentaram a quantidade e a qualidade de dados de utilidade operacional chegados às agências de inteligência do Estado, e inclusive induziu o alto comando militar a centralizar a informação de caráter estratégico em uma só agência de inteligência, para ser utilizada em operações estratégicas pontuais contra as FARC.
Excelência das operações aero-terrestres
Sem dúvida, Fênix, Xeque, Camaleão e Sodoma marcam uma baliza na formulação da moderna doutrina militar atualizada para operações aero-terrestres em guerra irregular, contra grupos terroristas encravados em selvas e montanhas boscosas, pois antes delas só existiam alguns poucos exemplos de eficácia deste tipo de ações táticas nas guerras regulares de Israel contra os vizinhos árabes em 1956, 1967, 1973, 1982, as duas guerras dos aliados no Golfo Pérsico contra o Iraque e a guerra contra o terrorismo muçulmano nos desertos do Afeganistão e Iraque.
Pela primeira vez, de maneira sincronizada as três Forças Militares e os Corpos de Elite da Polícia Nacional, além de intercambiar informação de valor estratégico atuaram ao mesmo tempo com minuciosa precisão sobre objetivos de máxima importância para a segurança nacional.
No princípio da madrugada de 1 de março de 2008 realizou-se a Operação Fênix. Aviões Supertucano da Força Aérea Colombiana, dotados com artilharia de alta precisão e tecnologia de ponta, bombardearam o acampamento guerrilheiro “Pedro Martínez” construído pelo bloco Sul das FARC há 12 anos, na zona selvática do município de Angostura, em Sucimbíos-Equador, a uma milha de ditância da fronteira binacional.
Ato contínuo, tropas do Exército e da Polícia desembarcaram sobre o objetivo os quais, além de localizar o cadáver do terrorista Raúl Reyes, acharam seus três computadores pessoais, várias memórias e uma agenda de anotações várias.
Ademais do contundente golpe tático que por razões óbvias desarticulou a intencionalidade do Plano Estratégico das FARC, os conteúdos dos computadores de Reyes desmascararam seus aliados nacionais e internacionais, e puseram a descoberto os componentes do trabalho clandestino da Frente Internacional das FARC com o Foro de São Paulo, o Movimento Continental Bolivariano e vários governos de esquerda pró-terrorista.
Segundo Tirofijo, a apreensão desses computadores pôs a descoberto todos os segredos das FARC, deixou mal parados os governantes dos países vizinhos cúmplices das FARC, e alertou a Colômbia acerca da dimensão da agressão contra a institucionalidade.
A morte de Raúl Reyes, terrorista número dois das FARC, desatou uma tormenta diplomática na América Latina, em particular para os mandatários da Venezuela e Equador, que com sua atitude beligerante exteriorizaram que a morte do bandido era um golpe irreparável para o projeto geoestratégico do século XXI sobre o hemisfério, ressarcido no segundo congresso da Coordenadora Continental Bolivariana que acabava de finalizar em Quito, ao qual haviam assistido alguns dos terroristas abatidos na guarida de Reyes.
Embora a estabilidade da paz na América do Sul tenha estado em suspense ante a ameaça do governo venezuelano de atacar a Colômbia por haver dado baixa a um terrorista de afinidade ideológica com o governo de Chávez, as FARC perderam um importante pilar da atividade propagandística de guerra política e psicológica fora da Colômbia, e a esquerda armada retrocedeu vários passos no familiarizado projeto revolucionário comunista no hemisfério, para o qual as FARC são paradigma.
Quatro meses depois, após um prolongado e minucioso trabalho integrado de inteligência militar, guerra psicológica, patrulhagens de observação, reconhecimentos aéreos, fotointerpretação, interceptação de comunicações e medidas táticas de engano, realizou-se a famosa Operação Xeque.
Um comando de homens e mulheres de inteligência militar colombiana, treinados em operações especiais, resgatou sãos e salvos 15 seqüestrados que eram torturados pela Frente 1 das FARC nas selvas do Guaviare
. Sem fazer um só disparo, de maneira incruenta e com extraordinária habilidade tática, os agentes de inteligência militar simularam um traslado de seqüestrados para a guarida de Alfonso Cano - o cabeça das FARC -, após um metódico e cinematográfico cruzamento de mensagens cifradas, mediante as quais se usurparam rádio-operadores das FARC que induziram os cabeças a acatar as instruções que recebiam do Exército mas que, enganados, supunham que lhes eram enviadas por Mono Jojoy.
Após a audaz manobra aero-terrestre, Jojoy ordenou castigar os cabeças que ficaram ao comando dos terroristas que antes torturavam os seqüestrados recém libertados, pois os dois cabeças da primeira Frente identificados com os cognomes de “César” e “Gafas”, foram presos e um deles extraditado aos Estados Unidos com acusação de narcotráfico.
Na inesperada incursão helicoportada foram resgatados três contratados de nacionalidade norte-americana que trabalhavam para o Plano Colômbia, no reconhecimento aero-fotográfico de zonas cultivadas com coca para posteriores fumigações, 11 militares e policiais seqüestrados durante maciços ataques das FARC e a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt.
Pela segunda vez e em menos de seis meses, uma operação tática aero-terrestre produziu conotações político-estratégicas no desenvolvimento da guerra da Colômbia contra o terrorismo comunista, pois desbaratou um sinistro plano sub-reptício que teciam os integrantes da Frente Internacional das FARC em conchavo com os governos pró-terroristas do hemisfério que, ansiosos por legitimar as FARC e conceder-lhes status de beligerância, para depois autorizar-lhes emabixadas e apoiá-los militarmente na ofensiva final contra a Colômbia, manipulavam o tema da libertação destes seqüestrados, com a suposta necessidade de despejar os municípios de Pradera e Florida nas goteiras de Cali, para fazer um intercâmbio humanitário por terroristas encarcerados.
Em finais de junho de 2010, tropas das Forças Especiais do Exército Nacional executaram no estado de Guaviare a Operação Cameleão, outra audaz ação aero-terrestre. De maneira inesperada e incruenta, resgatarm cinco seqüestrados que há dez anos ou mais estavam em poder das FARC.
Após vários meses de paciente observação e seguimentos satelitais à localização destes seqüestrados, na impecável incursão tática foram libertados o general Luis Mendieta e quatro oficiais da Força Pública.
Pela terceira vez, uma operação aero-terrestre sobre um objetivo tático de alto valor e risco total, causou repercussões político-estratégicas a favor do Estado colombiano contra o narco-terrorismo, em que pese que as FARC acabavam de libertar o cabo Pablo Emilio Moncayo mediante um show midiático consentido pelo governo brasileiro e a ONG “Colombianos pela Paz”, com a finalidade de ambietar um presumível diálogo das FARC com o governo colombiano, para forçar um acordo humanitário e a legitimação do grupo terrorista com status de beligerância e embaixadas nos países tendentes a ideais extremistas no hemisfério.
Em 23 de setembro de 2010, mediante uma histórica e paradigmática incursão aero-terrestre denominada Operação Sodoma, as Forças Militares da Colômbia propinaram o mais contundente golpe tático às FARC ao longo de seu extenso histórico de crimes e terrorismo.
Depois de quatro anos de incessante busca, operações falidas, bombardeios estratégicos a outros acampamentos, desembarques maciços de tropas, inclementes ataques de artilharia aos que por milagre haviam sobrevivido, achados em acampamentos, combates com anéis de segurança, análises de documentos, entrevistas a desmobilizados, interceptação de comunicações radiais e de texto eletrônico, revisão de aero-fotografias e tomadas de satélite, com grande precisão a Força Aérea da Colômbia bombardeou o bunker construído dentro do acampamento onde se refugiava o Mono Jojoy, reconhecido como o mais astuto, mais sanguinário e mais loquaz dos cabeças das FARC.
A morte de Jojoy bloqueou uma vez mais o projeto político dos cúmplices das FARC que procuram a todo custo sua legitimação, e sem propor, converteu-se na mais influente operação de guerra psicológica a favor do Estado colombiano contra as estruturas das FARC, pois estendeu a desmoralização e o temor dos demais cabeças de ser localizados e destruídos como ocorreu com Jojoy e Reyes.
Este golpe ratificou que a iniciativa estratégica, a condução tática e os efeitos políticos da confrontação passaram a favor do Estado colombiano, e que a única tábua de salvação que resta às FARC é a esperança de legitimação que ainda lhes dão seus cúmplices instalados nos governos vizinhos.
Conclusões
Assim como as FARC conseguiram ressonantes créditos políticos com golpes táticos de conotações estratégicas, o paciente e persistente trabalho de tecnificar a inteligência militar, operar em forma conjunta e qualificar os participantes em incursões aero-terrestres, virou a balança estratégica do conflito e infere-se que, se continuar a ofensiva sustentada, as FARC e seus cúmplices serão derrotados e obrigados à rendição.
Não se pode cantar vitória nem dar como seguro o êxito total, pois as FARC operam com base em um Plano Estratégico concebido minuciosamente e com variáveis de ordem procedimental, principalmente porque o narcotráfico, combustível de sua estrutura, continua sólido na região.
Toda ação contundente é ao mesmo tempo, por reflexo, uma operação transcendental de guerra psicológica.
Desde há vários anos a guerra na Colômbia ocorre no campo estratégico, o qual dá maior transcendência a cada ação tática das tropas espalhadas ao longo e ao largo do país. Cada incursão exitosa contra uma guarida das FARC ou do ELN significa um avanço no plano de pacificar o país, a consolidação da Estratégia de Segurança Democrática e a imagem positiva das Forças Militares.
As operações vindouras, os computadores encontrados nos acampamentos de Jojoy e as eventuais deserções de outros terroristas, trarão informações de alto valor estratégico que, por sua natureza, causarão urticárias e reações agressivas dos governos conjurados com as FARC, o qual significa que a estabilidade da paz no hemisfério é assunto-chave e da maior importância para os aliados e vizinhos dos Estados Unidos.
As FARC, seus cúmplices e seus comissários políticos intensificarão a guerra psicológica, a guerra jurídica e as campanhas de propaganda para desacreditar o governo colombiano e as Forças Militares, pois não cederão tão fácil para aceitar que perderam todo o terreno que haviam ganhado, devido a fraqueza, desinformação e desconhecimento dos presidentes, seus ministros de Defesa civis, e seus assessores de paz desde 1982 até 2002.
Além de haver entrado pela porta larga da história militar universal, as exitosas operações aero-terrestres Fênix, Xeque, Camaleão e Sodoma constituem-se uma referência para elaborar a doutrina tática e estratégica nas academias militares de todo o mundo, na preparação dos oficiais e sub-oficiais.
*Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
*Analista de assuntos estratégicos
Breve Biografia
Coronel da reserva do Exército colombiano com mais de 25 anos de experiência em operações de contra-terrorismo urbano e rural, analista de assuntos estratégicos e autor de 17 obras acerca do terrorismo internacional, da história da Colômbia e do fenômeno da narco-guerrilha.
Professor Militar, Investigador Científico com ênfase em Guerra Subversiva, ganhador de vários prêmios internacioanis de História, membro de várias academias de História na Colômbia, o coronel Villamarín é conferencista convidado em seminários, oficinas e programas de opinião em vários paíse do mundo. Ver: www.luisvillamarin.com