Tradução: Graça Salgueiro
O atual cenário de sucessivas imposições unilaterais das FARC na mesa de conversações, indica que transcorridos quinze anos do seqüestro massivo no Edifício Miraflores de Neiva as FARC continuam impondo uma iniciativa político-estratégica na guerra, que os negociadores de paz do governo do presidente Pastrana como os de seu similar Juan Manuel Santos desconhecem o Plano Estratégico do grupo terrorista, e que a ambos mandatários lhes preocupa mais sua vaidosa imagem pessoal, inclusive com o Prêmio Nobel de Paz, do que o destino do país.
Em 26 de julho de 2001, integrantes da Frente Teófilo Forero das FARC, disfarçados de policiais, entraram à força no Edifício Miraflores de Neiva, localizado a poucas quadras do Comando da Nova Brigada do Batalhão Tenerife, e do quartel do departamento de Polícia de Huila, e seqüestraram várias pessoas em um dos mais alardeados e humilhantes casos de incompetência tática dos comandantes dessas unidades das Forças Armadas.
Naquela época, Tirofijo e os demais cabeças das FARC passeavam orgulhosos pela zona despejada de 42.000 km2, ao mesmo tempo em que todos os dias o país conhecia pelos meios de comunicação atrocidades perpetradas por frentes farianas em todo o país. Romaña aterrorizava os viajantes na via Bogotá-Villavicencio mediante as “pescas milagrosas” [1]. Karina e o cocho Guzmán massacravam policiais, soldados e civis a granel em Antioquia e Chocó. Desde a sede das conversações, Simón Trinidad ordenava seqüestros e extorsões na Costa Caribe. Pablo Catatumbo e Alfonso Cano dirigiam desde o Caguán uma empresa criminosa de narco-tráfico e terrorismo no sul do Tolima e do Valle.
Os delegados de paz de Pastrana, Gumersindo Ricardo e Camilo Gómez, davam o mesmo desgosto que os atuais delegados de Santos porque as FARC lhes davam três voltas e os manipulavam a seu bel-prazer, em contraste com a estulta arrogância de Ricardo, muito similar à de Pearl, Jaramillo e o linguarudo De la Calle. E de maneira curiosa e coincidente, por sua incompetência nesse tempo o general Mora Rangel era o comandante do Exército, período no qual a instituição armada acumulou os piores fracassos militares de toda a sua história e agora como delegado de paz, nem soa nem troveja.
Como costuma acontecer na Colômbia, onde os altos funcionários se convertem em “vacas sagradas” e parece que para eles a constituição e as leis não são aplicáveis, nem o presidente Pastrana, nem os folclóricos ministros de Defesa, o contador público Ramírez e Gustavo Bell, nem o general Mora, nem o general Gilberto Rocha Ayala, comandante direto das tropas em Huila e principal responsável da improvisação tática que facilitou esse seqüestro massivo, nem os delegados de paz, nem ninguém com poder decisório respondeu pelo estrondoso cúmulo de golpes audazes das FARC contra a Colômbia.
Para rematar, hoje Andrés Pastrana prevalecendo-se da costumeira amnésia e da politicagem própria das espécimes de sua galeria de eleitos, critica Santos e o questiona pela provada péssima condução do atual mandatário aos destinos do país e ao processo de paz. A verdade é que Pastrana é tão inepto e tão figurão como Santos e, ademais, é um dos principais responsáveis por inação ou por omissão do crescimento das FARC, e da conseqüente resposta violenta dos mal chamados para-militares. De Santos, nem falar!
Com o passar dos anos as FARC extorquiram com elevadas somas as famílias de alguns dos seqüestrados no Edifício Miraflores, antes de ser libertados. E utilizaram outros como ganchos de propaganda, graças à “mediação humanitária” de Piedad Córdoba, cuja imparcialidade ficou em dúvida com os achados nos computadores de Raúl Reyes, que induziu o Procurador Geral a destituí-la do cargo de congressista pelo Partido Liberal.
Mediante o tráfico da dor das vítimas e da impotência dos colombianos, mal governados por Pastrana e com tropas sem liderança estratégica desde Bogotá e sem clareza operacional em Neiva, as FARC impuseram a iniciativa político-estratégica, tiraram vantagens táticas e se deram publicidade aos borbotões.
Quinze anos depois do espetacular e insólito seqüestro de civis no Edifício Miraflores da capital huilense, as FARC conservam a iniciativa político-estratégica, impõem todas as condições na mesa de conversações, manipulam o desejo permanente de figuração de Santos e seu grupelho, tiram vantagem tática, estão se rearmando em todas as Frentes, conseguiram que Santos suspendesse as operações militares em suas áreas, e estão a um passo de conseguir o status de beligerância como “exército paralelo”.
Essa preocupante realidade deixa o espectro político e estratégico da guerra das FARC contra a Colômbia, sessenta anos depois de manusear até a saciedade o débil presidente Pastrana e seus arrogantes delegados de paz, de maneira similar a como o fazem no âmbito político, publicitário e estratégico com Juan Manuel Santos.
Essa realidade tem uma única explicação: como bons comunistas e em cumprimento das diretrizes de seu partido, as FARC atuam em consonância com o Plano Estratégico enquanto o governo de turno dá pauladas de cego, não tem objetivos claros e o que é pior, em ambos os casos os negociadores de paz foram ignorantes frente ao plano estratégico do adversário, porque tudo o limitam à politicagem, à publicidade propagandística do presidente de turno e a acreditar que as FARC renunciarão aos objetivos totalitários, pelo único fato de conversar com Pastrana ou com Enrique, o irmão do presidente Santos.
Nota da tradutora:
[1] “Pesca milagrosa” é o eufemismo criminoso que as FARC utilizam quando param os carros nas estradas e rodovias para exigir que paguem um valor estipulado por eles, sob pena de seqüestro, como uma espécie de “pedágio”, uma vez que eles consideram que determinadas área do país são territórios “seus”.
Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
Analista de assuntos estratégicos, especialista em geopolítica, estratégia e defesa nacional, temas sobre os quais escreveu e publicou 31 livros.
El coronel Luis Alberto Villamarín Pulido es analista de asuntos estratégicos, especialista en geopolítica, estrategia y defensa nacional, temas sobre los cuales ha escrito y publicado 31 libros. Para leer algunos de los libros escritos por el coronel Villamarín haga click aquí


















