Generais Rodríguez e Lasprilla: os senhores têm a palavra

Publicado: 2014-06-25   Clicks: 2054

     Tradução: Graça Salgueiro

     A catarata de notícias e acontecimentos suscitados em torno das Forças Militares na atual época pré-eleitoral adornados pela farsa das conversações de paz em Cuba, cunhados como constante histórica nas contendas partidaristas colombianas, chamam uma vez mais à reação estrutural das instituições militares, para preparar seus quadros de comando de maneira integral e assim evitar que se repita o mesmo manuseio às tropas por parte dos dirigentes políticos de todas as vertentes, aqueles que se crêem donos do poder, da Colômbia, de seus destinos e da lealdade dos soldados.

    Desde o nascimento da República, as elites de todas as vertentes políticas têm visto as Forças Militares como um mal necessário e usufruíram do sangue e sacrifício dos soldados para fins politiqueiros. Na campanha presidencial de 2010 participaram três ineptos ex-ministros de Defesa, e na de 2014 repetiram dois dos mesmos personagens. Em que pese sua inaptidão profissional no campo da segurança nacional, todos, sem exceção, se auto-atribuíram a genialidade estratégica dos golpes militares contra o terrorismo. E assim foi sempre ao longo da sangrenta história colombiana.

    Em 1965 o presidente Valencia retirou do ministério da Guerra o general Alberto Ruiz Novoa porque o caracterizado oficial se opôs à manipulação das tropas. Em 1984 Belisario Betancur chamou o general Fernando Landazabal para qualificar serviços, porque o então ministro da Defesa advertiu ao mundo que as conversações de paz em Casa Verde eram uma farsa maiúscula. Em 1997, Ernesto Samper tratou de ocultar sua falta de decência e questionada eleição, ao destituir o general Harold Bedoya Pizarro porque ele se opôs ao espetáculo midiático Samper-FARC, para liberar os soldados seqüestrados na base militar de Las Delicias. 

    Daí em diante, os sucessivos comandantes das Forças Militares e do Exército Nacional tiveram uma atitude disciplinada mas fraca frente às argúcias politiqueiras dos presidentes de turno. No governo Andrés Pastrana, os generais Fernando Tapias e Jorge Mora Rangel marcaram o caminho da indignidade e da falta de caráter, ao tolerar a retirada do Batalhão Caçadores de sua sede em San Vicente del Caguán, com o único propósito de permitir ao inepto presidente que estendesse seu vaidoso desejo de ser distinguido com o Prêmio Nobel da Paz.

    Durante o duplo governo de Álvaro Uribe Vélez, as Forças Militares foram manuseadas de maneira reiterada devido à debilidade de caráter dos sucessivos comandantes gerais das Forças Militares, que toleraram do impulsivo mandatário antioquenho a destituição sucessiva de vários generais e coronéis, a irrupção arbitrária da linha de comando, a pressão por resultados operacionais, atividades irregulares que culminaram com as prováveis execuções extra-judiciais, casos pontuais de alianças com bandidos das AUC (Autodefensas Unidas de Colombia) e uma pitoresca e imaginária desmobilização de bandidos das FARC no Tolima.

     Depois, Juan Manuel Santos fechou com chave de ouro os abusos contra as Forças Militares, alguns coonestados pelo general Sergio Mantilla que, repleto de soberba e atitudes de déspota contra seus subalternos, não ruborizava em dizer que a lealdade das tropas era com Santos e não com o povo colombiano, gerou atritos de liderança e condução das tropas contra o general Alejandro Navas, permitiu que o presidente disfarçasse um filho de soldado e depois, como costuma acontecer com todos os servis em todos os regimes, Mantilla foi tirado do Comando do Exército pela porta de trás.

     Relevados Navas a Mantilla, assumiu uma nova cúpula militar submissa, passiva, embelezada com o equilibrismo politiqueiro de Santos, subjugada a um ministro de Defesa “yuppie” e incapaz de transmitir com clareza a mais de 250.000 subalternos as razões pelas quais permitem que o nome da instituição armada, a mesma que criou a República e a mesma que sustenta no imerecido cargo os politiqueiros de sempre, seja manchado e agravado diariamente por campanhas eleitorais, usado para que um medíocre como Santos diga ao país que as mães não devem entregar seus filhos à guerra, ou para que a outra campanha diga que aí está o verdadeiro comandante-geral que os soldados necessitam, ou para que Marta Lucía Ramírez se fantasie como estrategista de escrivaninha, ou para que qualquer pé rapado agrida a institucionalidade militar.

     Ao examinar com pinças estes eventos fica em evidência que os dirigentes políticos de turno, donos da verdade revelada, com contatos na imprensa e com o argumento de que os militares não são deliberantes, saem avante destes episódios, combinam novas pelejas demagógicas entre si, se auto-declaram os eleitos para tirar a Colômbia do atoleiro a que eles a conduziram e de passagem, deixam manchada a honra militar, sem que ninguém com poder decisório dentro das tropas tenha a vergonha e o caráter de pôr os pontos nos is, ao reunir os generais e almirantes com o presidente e o ministro de Defesa para exigir o respeito constitucional e institucional que as tropas merecem.

     Os dirigentes políticos são sagazes e conhecem as vulnerabilidades dos comandos e por isso mesmo manipulam a situação. Sabem que, por exemplo, Mora e Tapias não desejavam perder os carros, as escoltas, os telefones celulares e demais prebendas de seus cargos pagos com dinheiro público. Também sabem que ante a aproximação de vários generais e almirantes com capacidade de ocupar altos cargos, aos quais nomeiem nas mais altas posições, se converterão em submissos a eles como Mantilla, Padilla, Rodríguez Barragán ou Cely, e em potenciais “eliminadores” de competições internas.

     O grave é que enquanto ajudam o presidente de turno a salvar os políticos temporários que se desatam por males concomitantes à nossa “pobre” direção histórica, por exemplo a corrupção, o clientelismo, os ódios, as invejas, etc., as FARC e seus cúmplices comunistas armados e desarmados ganham terreno, como ocorre com a atual ópera bufa de Havana e a evidente atividade do Partido Comunista Clandestino e o Movimento Bolivariano Clandestino das FARC que, a julgar por seus atos recentes, não são tão clandestinos.

     Além dessa urgente reunião, que não é a primeira vez que se sugere, também é necessário que os generais e almirantes revisem e recomponham a instrução militar das escolas de formação e capacitação de oficiais, em temas que são sensíveis e que pela dinâmica da guerra no país requerem aplicação imediata, tais como: liderança em todas as especialidades, geo-política, sociologia militar, defesa nacional, ação integral, história militar, história da Colômbia, revoluções e processos de paz, Plano Estratégico das FARC e do ELN, e sociologia política do país.

    Todo este programa é projetado para que no futuro as Forças Militares sejam mais respeitadas e muito mais profissionais que as de agora. Se não se examina com o olho clínico o ocorrido até agora e se continua a navegação sobre as águas do mar da mediocridade, da improvisação e da imprevidência, a Colômbia e suas tropas serão as únicas sacrificadas. E os dirigentes políticos sairão com as suas uma vez mais.

    É necessário sair da letargia e do formalismo com reflexos servis, de estar pedindo permissão ao presidente e ao ministro de turno para fazer o que é ético em defesa da instituição e elaborar a memória histórica do conflito, pois o acordado em Cuba até o momento só aponta em satanizar as Forças Militares e se não se age a tempo com contundência, a direção política colombiana que é sinuosa e com redemoinhos, que hoje se ataca mutuamente e amanhã se une para outras causas contra o país, lavará as mãos e ao final do episódio, os militares serão os únicos responsáveis pela guerra ocasionada pelas FARC, pelos comunistas e os bandidos de colarinho branco. E o país continuará à deriva.

     Generais Juan Pablo Rodríguez Barragán e Jaime Lasprilla, este é um momento histórico que demanda sua ação constitucional para fazer respeitar as tropas. A história é como o futebol: quem não faz, vê os demais fazer os gols.

Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

Analista de assuntos estratégicos – 

www.luisvillamarin.com

Reciba gratis noticias, articulos y entrevistas

* indicates required

Maintained and Created by: { lv10 }

LuisVillamarin.com, 2015©